terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Dias em que não há paciência

Há dias em que a paciência é limitada, como por exemplo naqueles dias em que vais tirar sangue pela manhã e ficas todo o dia à espera que chegue o e-mail com os resultados.

Semana de revisão na oncologia dá sempre azo a uma certa impaciência e intolerância para com certas coisas e certas pessoas.

Como diz o outro, as pessoas boas não são necessariamente burras. Podem ser só boas, adequada e simplesmente boas.

Bjinho
Vera

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Números que gelam

Estatísticas...valem o que valem, mas conseguem gelar-nos uns momentos.

O medo vai sempre acompanhar-nos, saber lidar com o medo é que nos faz continuar a sorrir, a sair da cama, a trabalhar, a viver! Ter noção destas amargas estatísticas ajuda:)

Vejam a reportagem breve da Sic  - "Um terco dos doentes com cancro da mama acaba por voltar a ter a doenca na forma avançada"

Bjinho,
Vera


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Tamoxifeno

Há 5 anos terminamos a nossa relação. Eu e o tamoxifeno éramos incompatíveis...
Como era "nova"na altura, o Aromasin pareceu-nos mais atraente, ainda por cima acompanhado do Zoladex, com aquele corpo invejável de chorar por mais (lá doer, doeu muitas vezes).

Retomo hoje este velho amor, abandonada que está a fase do Aromasin e Zoladex, que foram sempre fiéis protetores. Desempenharam bem o seu papel, mas é altura de avançar.

Bring it on, tamoxifen. Venham daí mais mudanças de humor, mais dores nas articulações, mais 500 efeitos secundários.

Afinal de contas, alguém disse que não há amor como o primeiro...
Bjinho e sejam felizes.

Vera

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Outubro rosa

Parece que começou o mês da sensibilização para o cancro da mama. Ideologias à parte, convém mesmo é vigiar e cuidar do nosso corpo todos os dias. Homens e mulheres devem fazer a auto-palpação. Pode salvar vidas, literalmente.
Bjinhos
Vera

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Besta de cancro

Hoje uma sms fez-me recuar a 2013 quando descobri que tinha cancro...

Nunca fui de eufemismos. É cancro...não é o malzinho, a doença, o tumor maligno...chamem-no pelo nome. Consta que ele não gosta de afrontas...

Quando nos conseguimos colocar no lugar da pessoa que acabou de receber esse "presente", caímos de volta no mesmo momento, sentimos o aperto e a sensação de medo e do "porquê eu"...e milésimos de segundos depois, estamos a passar energia positiva, a cuidar de dar esperança e a disponibilizar-nos para ouvir, falar ou o que quer que precisem.

Não vale a pena procurar o porquê. Há quem diga que é o destino, o karma, o azar, a genética, entre outros pseudo-culpados.  Importa agora somente o quando e como o vamos atacar, para o ultrapassar. O resto fará parte da história, da nossa história

Bjinho
vera

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Aprender sempre

Hoje fui à biblioteca de Ílhavo com a Rita. O clube de leitura está quase a recomeçar e há que preparar a tarefa com antecedência para evitar aquelas correrias de última hora.

Vi estes dois livros. Um de receitas e outro de controlo hormonal...equilíbrio do sistema hormonal...uhm, pareciam combinar. Tudo o que comemos influencia o nosso corpo, por isso continuo a tentar mudar hábitos cá em casa, de preferência de forma informada.

Boas leituras e muita saúde.
Bjinhos

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Os primeiros 5!

Não sou uma pessoa ambiciosa, não almejo cargos importantes no trabalho, não quero ser rica a ponto de não saber quanto dinheiro tenho e não quero ter carros xptos...'keep it simple', costuma ser o lema. O cancro poderá ter contribuído, em parte, para esta postura, mas acho que muito já era meu.

Esta semana, pequenas vitórias que me valeram uma taça!


5 anos após fim dos tratamentos-choque, 5 anos de medicação e de exames constantes, 5 anos de efeitos secundários muitas vezes camuflados pela minha postura e "bom ar".

 Não vou deixar a hormonoterapia, que no meu caso é recomendada por 10 anos. Vamos alterar. Vou deixar de tomar as benditas injeções Zoladex, vou deixar o Aromasin daqui a 1 mês, vou parar o ácido alendrónico em breve e voltar ao tamoxifeno por mais 5 anos. No fundo, a partir de agora, só o tamoxifeno, o cálcio e a vit D...

Deixar de sentir aquela agulha linda todos os meses não vai deixar saudades. Acho que vou sentir saudades das minhas queridas enfermeiras Andreia e Isabel, que ao longo destes 5 anos sofreram um bocadinho comigo e que foram vivendo comigo as pequenas vitórias e partilhando muito mais do que apenas aquele momento para a injeção no centro de saúde de Ílhavo.

O meu querido Dr. Leal ficou tão feliz quanto eu. 

São mudanças positivas na medicação, na esperança de sobrevida e na qualidade de vida.

Keep it simple.
Vera


segunda-feira, 20 de maio de 2019

Revisão dos 63...

Na minha última revisão de oncologia, depois de toda a simpatia, lá vieram os 63kgs à conversa e a taxa de colesterol bem acima dos valores pseudo-normais. Acho que só grávida tinha atingido os sessentas...e isso desapareceu passado uns meses.

Como a medicação hormonal tem estes efeitos secundários (entre alguns outros ainda mais desagradáveis), lá terei eu de entrar em modo "regime". Vamos evitar a palavra "dieta" que me fere os ouvidos. Até à próxima consulta, em agosto, baixar ambos os valores e as ordens do Dr. Leal são para cumprir, até porque ele sabe bem do que fala.

De resto, exames todos em conformidade e siga para a frente com isto. Em breve atingirei o que muitos consideram ser a 1ª meta - os 5 anos pós-tratamento. Já????

 É relativa esta contagem e há sobreviventes a contar este tempo de maneira diferente, mas considero, no meu caso e para este efeito a data de conclusão do "tratamento choque" - quimioterapia+mastectomia+radioterapia.

Agosto de 2014 foi uma espécie de libertação, até porque literalmente estava a "libertar" cenas queimadas pela radioterapia (humor negroooo).


Assim tem sido o caminho...


1- Quimioterapia neoadjuvante - início a 8-01-2014

4 ciclos de AC + 12 de Herceptin e Paclitaxel

2- Cirurgia - Mastectomia radical modificada a 17-06-2014
3- Radioterapia - 26 sessões, 10 com bólus

Início a 14-07-2014

4- Herceptin (3 em 3 semanas, 1 ano)

De 05-04-2014 a 31-03-2015

5 - Tamoxifeno (interrompido)

De 01-07-2014 a 7-10-2014


6- Zoladex (1 mensal, 5 a 10 anos)

Início a 8-08-2014


7. Aromasin (diário)

Início a 8-10-2014

...e este caminho vai-se fazendo...primeiro os 5, depois os 10 anos e por aí em diante.

Beijinho e coragem a quem está na luta.
Vera

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Obras e tatuagens

A paciência que temos de ter em processos de reconstrução diz muito sobre nós e sobre os cabelos brancos que vamos ganhando ao longo do tempo. Passou mais de 1 ano desde a última cirurgia, que fiz em fevereiro de 2018. Só hoje fui completar o próximo passo desta "Obra de Santa Engrácia".

Acredito que a pressa é inimiga da perfeição, por isso dar tempo ao corpo para recuperar e cicatrizar bem é o ideal para o corpo, mas nem sempre para a mente.

Passo nr. 4 da obra concluído, tatuagem feita e a precisar agora de algum tempo para cicatrização e normalização da pele. Ainda ficam a faltar uns retoques no estuque, mas Roma não se fez num dia. So far, so good!



Obrigada Orfeu, não só pela tatuagem, mas pelo carinho e à vontade que me fez pensar voltar aí um dia para esconder a entrada extra que me abriram para a quimioterapia. Para se ser um bom profissional, também é preciso ser um bom ser humano e esses, felizmente, vou encontrando ao longo desta minha jornada.

Bjinho,
vera


segunda-feira, 25 de março de 2019

A proximidade que importa

Hoje fui à farmácia comprar a minha medicação e saí de lá com um sorriso nas trombas, mesmo depois de ver a conta.

A farmacêutica perguntou se estava tudo a correr bem e disse-me, com um sorriso, que eu já devia estar quase a chegar ao 5º ano pós-cancro. Associou-me, desde o início do cancro, à idade do filho e por isso sabia que já lá iam mais de 4 anos de tratamento hormonal.

Foi bom sentir esse carinho de alguém com quem me cruzo apenas 1x por mês. Andamos sempre a correr de um lado para o outro e perdemos tão pouco tempo a mimar e a cuidar.

Entretanto, no meio das correrias, deixei prescrever a receita para a vitamina D...agora vou mesmo ter de tostar à hora de almoço um bocadinho, todos os dias, senão não consigo sair do "défice".




terça-feira, 5 de março de 2019

Falar sobre cancro

Falar sobre cancro...pois!
Falo muito sobre o cancro, seja o meu ou outros. Conheço intimamente o meu e dou uns toques acerca de outros. Muita informação inútil neste cérebro!

Muitas vezes, no momento do diagnóstico, depois de passar aquele primeiro susto, precisamos de ouvir experiências, pessoas reais que saibam entender o medo e o pavor do desconhecido e da incerteza. Tenho falado com algumas pessoas, a maioria provavelmente não devo ter o prazer de conhecer pessoalmente pela distância que nos separa. Mas isso não significa que não seja criado um laço com essas pessoas. São laços virtuais, muitas vezes mais fortes que muito físicos.

Nesta minha aventura, conheço também casos mais próximos, que me fazem pensar na injustiça na distribuição dos cancros. Não sei quem a faz, mas devia repensar seriamente a sua estratégia!

Se com dois dedos de conversa e um chá conseguimos ajudar alguém, se os conseguimos ajudar a tranquilizar, sabe bem. Ficamos a pensar em como podemos ser úteis aos outros, como quando um dia alguém o foi para nós.

Não há nada que garanta que vai correr bem, nem ninguém o pode assegurar, eu muito menos. Mas quando sei que estão a ser tratados, ou vão ser tratados, pela equipa que me segue, fico simplesmente aliviada e feliz pelas pessoas. Os anjos da guarda podem ser partilhados, afinal de contas.

E sei que o Dr. Leal, a Dra. Teresa, a enfermeira Maria José e a Licínia de tudo farão para que te sintas sempre bem enquanto por lá andares, querida L.

Agora vamos a luta!

Bjinho
vera

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Rosnar e sorrir

Tenho andado cansada, demasiado abstraída para sentar e escrever, que tanta falta me faz. Aliado a isso, o meu "Airzinho" morreu há uns dias, daquelas mortes que não tem ressurreição possível.

Vá lá que foi nas mãos do Nuno...se fosse nas minhas, ainda hoje estava a ouvir as piadinhas. Sim, porque "eu" dou cabo das máquinas todas, cá em casa tem sido um "ver-se-te-avias" de cenas avariadas e, segundo consta, eu tenho quota parte nisso. Devo ter um dom...o que me vale é a minha capacidade de abstração (ou de ignorar mesmo).

A abstração e capacidade de ignorar, até um certo ponto, são muito importantes, porque existe tanta coisa, boa ou má, a acontecer à nossa volta, que nos consegue desestabilizar, retirar a paz e o equilíbrio que precisamos para viver, e não só sobreviver.

Vou rosnando, sorrindo e ladrando, por vezes, mas enquanto assim for, é bom sinal. Se eu parar de sorrir no meio do rosnar e ladrar, aí sim, a coisa está preta!

Bjinho.
Vera

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Chemo what?

Tenho andado desaparecida, mas continua tudo no bom caminho no que diz respeito ao cancro e à vida pós-cancro. Com o trabalho, as 500 atividades da criança, casa e cenas, os fins de semana rendem pouco e por vezes o cansaço impede que a escrita tome o seu devido lugar.

Pode não parecer, mas passaram 4 anos desde que regressei ao trabalho, desde que o tratamento “choque” terminou.  Olhando para trás, são já imensos textos acerca de mim, acerca do cancro, acerca deste desencontro que ninguém quer ter na sua vida.

Disse-me o meu querido oncologista, em janeiro de 2015, para eu viver a vida normalmente, não me lembrar do cancro constantemente...deixá-lo no ano 2014. A quimio limpou-me a memória e ainda hoje sinto efeitos secundários a esse nível, mas do cancro não me esqueço e acho que fazendo parte da minha vida, não o devo esquecer, devo é saber conviver com o que se passou, o que ainda se passa e o que pode vir a passar, a qualquer momento.



Este mês há revisão. Na próxima semana volto aos meus amigos marcadores e aos abraços sentidos do meu querido oncologista. Sinto-me bem entregue nas mãos dele, cuidada e lembrada. Poderá haver melhor sensação do que é esta quando se trata da nossa saúde?

Bjinho
Vera

Ps: Graças aos fóruns de apoio, com doentes e sobreviventes, familiares ou amigos, tenho conhecido pessoas espetaculares. É bonito, quando estamos dispostos a ouvir alguém e a ajudar, mesmo que nunca possas vir a conhecer a pessoa.