segunda-feira, 16 de maio de 2016

Fase rotineira

Há dias em que me consigo esquecer do cancro e levo uma vida normal, entro na rotina despassarada de escola, trabalho, casa, lava roupa, arruma roupa e desatino com as mais pequenas coisas....sim, imagino que o normal de todas as pessoas.

Houve dias, no meu annus horribilis de 2014 em que eu dizia a mim mesma que nunca ia voltar a ter dias assim, de rotinas parvas que nos emudecem e adormecem o espírito. No entanto, à medida que o tempo passa e o "território" conquistado ao cancro vai aumentando, voltam velhos hábitos.

Por um lado, é altamente gratificante que assim seja. É sinal de que o cancro não voltou e que eu estou viva, apesar das mazelas físicas e das outras menos físicas:) Mas, por outro lado, às vezes chateio-me por cair na rotina tão facilmente, por ceder tão rapidamente à "vida" corriqueira, sem por vezes me dar conta que saio do trabalho, vou buscar a Rita e vamos para casa fazer jantar, banhos, etc...

Ontem fomos com ela à praia de manhã, com o tio Nelson e o charmoso. Estava um sol fantástico na Vagueira, apesar do vento. O meu termoestato ainda se encontra avariado, sentia algum frio, mas a Rita até na água chapinhou...! Andávamos nós de rabo para o ar a apanhar conchas quando ela descobre um búzio...a cara de felicidade dela fez o meu dia. É disto que nós todos precisamos, de encontrar um búzio. Para ela, uma espécie de tesouro, uma felicidade tal que saltava de alegria na praia.

Conseguíssemos nós, adultos, ficar tão felizes com tudo o que temos e havia menos caras sizudas e mais alegria de viver. Dizem que só damos valor à vida quando esta está em risco....porque não fazer isso antes?

Beijinho,
Vera