Hoje é dia 22.
Na prática, não saio de casa desde dia 13 e, felizmente, já estava em tele-trabalho em casa desde dia 11.
Nestas circunstâncias, é preciso saber estar em casa, o que muitas vezes não é fácil, especialmente quando fizemos downsizing na casa e não temos espaço para co-habitar sem ameaçarmos alguém de porrada ou tropeçar em alguma coisa.
Tive um ano de aprendizagem nesta matéria em 2014. Com o cancro e respetivos tratamentos fofinhos, vi-me muitos dias fechada em casa e aprendi a lidar com os silêncios da casa, nesta caso na minha antiga casa. Ai as saudades da Vista Alegre e da minha horta :(
Sempre gostei de estar com pessoas e ver-me rodeada de amigos. No entanto, durante a quimioterapia, aprendi o quão satisfatório pode ser o silêncio e a solidão. Houve dias em que tive companhia, e da boa, mas muitos em que tive de aprender a viver dentro das paredes da casa e a saber respeitar esses limites.
Era-me dito para me resguardar de pessoas além do necessário, contacto só com a família mais próxima...qualquer constipação ou gripezinha num sistema imunitário debilitado podia dar azo a problemas. Ir ao supermercado só se me sentisse bem fisicamente e nas horas de menos gente...ir de máscara era aconselhável.
Confesso que andava com elas no carro e quando saía, pensava que se entrasse de máscara, ia ser alvo de olhares ainda mais piedosos do que aqueles que a careca e o olhar amarelecido me conferiam.
Entrava, procurava o que queria e saía a correr, quase sem tocar em nada, a fugir das pessoas nos corredores e meia paranóica com o contacto físico. Neste momento, vejo tanta gente na televisão assim, de máscara na rua, nos transportes e nos locais de trabalho que ninguém daria pela minha máscara nem pela figurinha que devo ter feito algumas vezes.
Estar em casa por vontade própria é fácil, estar por necessidade e/ ou obrigação força-nos a outro mindset. Temos de interiorizar que este é um período da nossa vida que somos obrigados a viver, uma fase que vai passar e que novos dias virão, com a liberdade para ir à praia, dar um volta de bicicleta ou só estar com amigos num final de tarde.
Entretanto, vamos fazendo dentro das nossas paredes tudo o que nos é permitido, porque umas vezes é o cancro, outras vezes a depressão, agora o corona....há imensas coisas que nos podem prender a uma casa. É preciso esperar com calma, paciência e respeito pelo próximo.
Beijinho e fiquem em casa.
vera