Hoje tive um dia feliz. Haverá muita gente sem cancro que não
poderá dizer o mesmo, mas terão de aprender a ver beleza da vida nas coisas
mais simples. Simplificar para ser feliz e aproveitar ao máximo o (pouco) tempo
que cá andamos.
Hoje um dos posts do Cancro com Humor foi o seguinte: "Não
podemos ter todos os dias bons mas podemos ter algo bom, todos os dias!". Quando
li, ri-me, porque de facto condizia com o meu estado de espírito. Tive muitas
coisas boas hoje.
Comecei o dia com a rotina de sempre e faço questão que assim
seja enquanto puder. Preparar a minha pestinha para a escola pode tirar-me a
paciência logo pela manhã, mas não há melhor maneira de começar o dia. Não há
peça de roupa que não aperte, nem sapatos que não a incomodem. Genes do pai, claro.
A meio da manhã, conheci pessoalmente a Carla, uma companheira
de luta, outra mulher que luta contra o cancro de mama e que bem entende a
parafernália de sensações e sentimentos que muitas vezes nem expresso, porque
há coisas que só vividas se entenderão…e espero que ninguém que leia isto tenha
de viver. Prefiro que não entendam.
Com uma agenda pouco típica de pessoa em quimioterapia, lá segui
eu para Aveiro, uma vez que teria de enfrentar mais uma junta médica ao início
da tarde, mas não sem antes almoçar com uma pessoa muito querida, a Manuela, no Ki
macrobiótico. Há pessoas que se cruzam connosco em momentos da nossa vida e
justificam plenamente essa entrada nas nossas vidas e um lugarzinho conquistado
no nosso coração.
Orgulho-me de dizer que “passei” na junta médica e desta vez nem
sequer me fizeram a pergunta difícil do “Está com cancro?”. Acho que há que
saber perguntar a mesma coisa, por outras palavras e tive, de facto, uma equipa
médica muito simpática a receber-me hoje. As pessoas fazem realmente a diferença,
nos mais variados setores da nossa vida. Encontrei na segurança social uma pessoa de
uma aldeia perto da minha, lá no sopé da Serra da Freita. O mundo é pequeno, a
vida também. Espero que recupere depressa e bem.
Com as injeções a massacrar a minha medula, retirei-me da vida
social. Há tanta gente que eu gostaria de visitar, tanta coisa que precisava e
queria fazer antes da cirurgia, mas ultimamente ando a reconhecer as minhas
limitações ( e não só as físicas). Acho que já são muitos meses, muitas quimios, muita ansiedade para
a fase que se avizinha, muitas dúvidas a pairar no ar.
Tive azar, dentro do azar que é o cancro de mama. O meu tipo de
cancro é muito raro, praticamente não existe informação sobre ele. Sigo agora
um grupo de apoio americano (IBC- Inflammatory Breast Support) e conheci a
Sandra, para já apenas virtualmente, uma outra portuguesa que já passou pelo
mesmo. É bom ouvir o testemunho e sentir que alguém nos percebe na nossa língua,
se bem que da parte das mulheres americanas tive um feedback que me deixou espantada.
Sugestões, dicas, relatos de experiência e opiniões pessoais fundamentadas de
quem viveu ou vive este mesmo cancro. Maravilhas das tecnologias e de pessoas com bom coração.
Uma outra pessoa que se tem tornado muito presente nestas andanças “tecnológicas”
e que só vi uma vez pessoalmente, hoje escreveu-me uma mensagem fantástica. E
sim, Paula, tens razão, não sou a super-mulher e preciso deixar que me ajudem a
enfrentar a luta. Ainda hás-de um dia desvendar o truque que usaste para te
teres apercebido de certas coisas J
E, como sempre, se Maomé não vai à montanha, eis que a minha
amiga mais presente neste cancro aparece mesmo naquele momento em que o nosso
cérebro se encontra a disparatar (quem raio me mandou ver as taxas de
sobrevivência para este cancro!!).
Esta princesa Sisse tem daquelas pontarias
que não se explicam. Companhia e conversa sempre interessante, um bom ouvido e
uma amizade sincera e digna de se ver.
É bom ver que no meio de tanta coisa que o cancro nos retira,
ele consegue trazer-nos coisas boas. Reforça amizades, cria laços, fortalece
barreiras e faz-nos ver quem realmente gosta de nós e se mantém connosco na
luta.
Não digo isto com ressentimento a ninguém que se tenha afastado
ou esteja menos presente. Há maneiras e maneiras de se viver e lidar com esta
“coisa” e nem todos somos iguais felizmente.
E terminamos a noite por aqui, porque há uma pestinha que
insiste em desafiar a lei do sono!
Obrigado a quem me acompanha, a quem reza por mim e a todos que se lembram de mim por algum motivo
durante os seus dias.
admiro-te muito és uma guerreira e mereces todos os momentos que te oferecem, torço por ti, tenho a certeza que és um grande exemplo para muitos...
ResponderEliminarObrigada Fernanda. Beijo grande
ResponderEliminarMereces toda essa esfera de carinho que te protege! é apenas o reflexo de todo o carinho e amizade que nos tens dado :)
ResponderEliminarBeijinhos grandes e cá estaremos sempre ao teu lado minha portuguesa LINDA!
Minha venezuelana favorita, obrigada :)
EliminarGosto muito de ti
É bom saber, que apesar das adversidades, reina o optimismo e boa disposição.
ResponderEliminarAs "pestinhas" são o nosso ser e fazem-nos ganhar forças onde não sabiamos que existiam!
Abraços para todos vocês.
Beijinho Vera! Tenho saudades tuas!
ResponderEliminarDora Zita