quarta-feira, 21 de maio de 2014

Coisas boas

Hoje tive um dia feliz. Haverá muita gente sem cancro que não poderá dizer o mesmo, mas terão de aprender a ver beleza da vida nas coisas mais simples. Simplificar para ser feliz e aproveitar ao máximo o (pouco) tempo que cá andamos.

Hoje um dos posts do Cancro com Humor foi o seguinte: "Não podemos ter todos os dias bons mas podemos ter algo bom, todos os dias!". Quando li, ri-me, porque de facto condizia com o meu estado de espírito. Tive muitas coisas boas hoje.

Comecei o dia com a rotina de sempre e faço questão que assim seja enquanto puder. Preparar a minha pestinha para a escola pode tirar-me a paciência logo pela manhã, mas não há melhor maneira de começar o dia. Não há peça de roupa que não aperte, nem sapatos que não a incomodem. Genes do pai, claro.

A meio da manhã, conheci pessoalmente a Carla, uma companheira de luta, outra mulher que luta contra o cancro de mama e que bem entende a parafernália de sensações e sentimentos que muitas vezes nem expresso, porque há coisas que só vividas se entenderão…e espero que ninguém que leia isto tenha de viver. Prefiro que não entendam.

Com uma agenda pouco típica de pessoa em quimioterapia, lá segui eu para Aveiro, uma vez que teria de enfrentar mais uma junta médica ao início da tarde, mas não sem antes almoçar com uma pessoa muito querida, a Manuela, no Ki macrobiótico. Há pessoas que se cruzam connosco em momentos da nossa vida e justificam plenamente essa entrada nas nossas vidas e um lugarzinho conquistado no nosso coração.

Orgulho-me de dizer que “passei” na junta médica e desta vez nem sequer me fizeram a pergunta difícil do “Está com cancro?”. Acho que há que saber perguntar a mesma coisa, por outras palavras e tive, de facto, uma equipa médica muito simpática a receber-me hoje. As pessoas fazem realmente a diferença, nos mais variados setores da nossa vida. Encontrei na segurança social uma pessoa de uma aldeia perto da minha, lá no sopé da Serra da Freita. O mundo é pequeno, a vida também. Espero que recupere depressa e bem.

Com as injeções a massacrar a minha medula, retirei-me da vida social. Há tanta gente que eu gostaria de visitar, tanta coisa que precisava e queria fazer antes da cirurgia, mas ultimamente ando a reconhecer as minhas limitações ( e não só as físicas). Acho que já são muitos meses, muitas quimios, muita ansiedade para a fase que se avizinha, muitas dúvidas a pairar no ar.

Tive azar, dentro do azar que é o cancro de mama. O meu tipo de cancro é muito raro, praticamente não existe informação sobre ele. Sigo agora um grupo de apoio americano (IBC- Inflammatory Breast Support) e conheci a Sandra, para já apenas virtualmente, uma outra portuguesa que já passou pelo mesmo. É bom ouvir o testemunho e sentir que alguém nos percebe na nossa língua, se bem que da parte das mulheres americanas tive um feedback que me deixou espantada. Sugestões, dicas, relatos de experiência e opiniões pessoais fundamentadas de quem viveu ou vive este mesmo cancro. Maravilhas das tecnologias e de pessoas com bom coração.

Uma outra pessoa que se tem tornado muito presente nestas andanças “tecnológicas” e que só vi uma vez pessoalmente, hoje escreveu-me uma mensagem fantástica. E sim, Paula, tens razão, não sou a super-mulher e preciso deixar que me ajudem a enfrentar a luta. Ainda hás-de um dia desvendar o truque que usaste para te teres apercebido de certas coisas J

E, como sempre, se Maomé não vai à montanha, eis que a minha amiga mais presente neste cancro aparece mesmo naquele momento em que o nosso cérebro se encontra a disparatar (quem raio me mandou ver as taxas de sobrevivência para este cancro!!). 
Esta princesa Sisse tem daquelas pontarias que não se explicam. Companhia e conversa sempre interessante, um bom ouvido e uma amizade sincera e digna de se ver.

É bom ver que no meio de tanta coisa que o cancro nos retira, ele consegue trazer-nos coisas boas. Reforça amizades, cria laços, fortalece barreiras e faz-nos ver quem realmente gosta de nós e se mantém connosco na luta.
Não digo isto com ressentimento a ninguém que se tenha afastado ou esteja menos presente. Há maneiras e maneiras de se viver e lidar com esta “coisa” e nem todos somos iguais felizmente.

E terminamos a noite por aqui, porque há uma pestinha que insiste em desafiar a lei do sono!

Obrigado a quem me acompanha, a quem reza por mim  e a todos que se lembram de mim por algum motivo durante os seus dias.

6 comentários:

  1. admiro-te muito és uma guerreira e mereces todos os momentos que te oferecem, torço por ti, tenho a certeza que és um grande exemplo para muitos...

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  2. Mereces toda essa esfera de carinho que te protege! é apenas o reflexo de todo o carinho e amizade que nos tens dado :)
    Beijinhos grandes e cá estaremos sempre ao teu lado minha portuguesa LINDA!

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  3. É bom saber, que apesar das adversidades, reina o optimismo e boa disposição.
    As "pestinhas" são o nosso ser e fazem-nos ganhar forças onde não sabiamos que existiam!
    Abraços para todos vocês.

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  4. Beijinho Vera! Tenho saudades tuas!
    Dora Zita

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