Estou em reclusão social há quase 2 meses.
Para quem me conhece minimamente, sabe que (tirando a quimio), é isso que me
custa atualmente.
Não poder levar a Rita ao CIAQ, dizer bom dia
e conversar com as colaboradoras do nosso infantário. Ver a
Rita entrar na sala diariamente e ser bem recebida pelos amigos é um bálsamo
diário tão bom para o coração.
Não poder ir trabalhar para a universidade, partilhar
da “euforia” do Horizonte 2020 e saber que por lá já se esforçam em dobro para
manter a honra da casa. Saber que em breve temos uma revista a sair, um
Research Day em grande e não vou poder viver isto, que tanta adrenalina boa nos
dá.
O simples facto de não poder estar com pessoas
normalmente, ir a um café ou almoçar fora com o meu charmoso, sem o medo de um vírus, bactéria ou qualquer
treta do género.
Mas hoje regressei a uma normalidade
“forjada”.
Como o Nuno estava pela capital, fui levar a Rita à escolinha. Revi
muitos sorrisos e palavras de incentivo das colaboradoras do CIAQ e senti-me
quase “normal”.
Fui ao centro de saúde pedir a minha Junta
Médica, porque como me disse uma amiga: já que tens cancro, aproveita os
benefícios fiscais! Acho que preferia pagar impostos a
dobrar...aliás, acho que o Passos Coelho já implementou essa medida para todos,
doentes ou não!
A quimioterapia tem-me tirado muita coisa. A
normalidade das nossas vidas é julgada com muita leviandade e desprezada em
quase todos os momentos da nossa vida. Até que alguém liga um interruptor e lá se vai essa normalidade tomada como garantida.
Hoje no centro de saúde, as duas funcionárias
que me atenderam simpaticamente (é esse o efeito de um lenço na cabeça ou uma
peruca), quase se pegavam por um pormenor burocrático...palavras agressivas,
olhares torcidos e eu pasmada a olhar para as duas. Valerá a pena isso?
Se temos de passar o dia todo com alguém, num
espaço confinado, não será racional e inteligente tentar manter uma
cordialidade e um ambiente agradável?
Esta minha postura não adveio do cancro,
note-se. Já partilhei espaços , conversas, jantares, etc., com pessoas com as
quais não criei, nem criarei jamais, empatia. Mas maltratar e ser mal-educado
parece-me tão mal. Mas, não quero dar lições de moral a ninguém.
Prosseguindo com a normalidade, fui às
compras, porque aqui em casa a despensa estava em crise. Claro que ir às
compras, no meu caso, é aqui ao supermercado mais pequeno em Ílhavo, a uma hora
em que os velhotes andam a escolher maçãs, mas é o mais seguro.
E ainda trabalhei (de casa), fiz uma torta de
doce de abóbora e preparei o jantar, hoje com convidados muito importantes, a
Sandra e o João. Medalhões de pescada com beringela (em cama de legumes e creme
de soja) no forno! Arriscar um prato de peixe para o João (vulgo Moebios) é
dose! Mas ele gostou...os outros comem qualquer coisa J
Convidar pessoas cá para casa sempre me deu
muito prazer. Gosto de ter a casa movimentada e com este casal amigo há sempre
boa disposição.
E a boa disposição, comida na mesa e amigos trazem de volta dos dias de normalidade.
E a boa disposição, comida na mesa e amigos trazem de volta dos dias de normalidade.
Beijinhos :)
muitos dias normais bjinho <3
ResponderEliminarObrigada :)
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