sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Normalidade


Estou em reclusão social há quase 2 meses. Para quem me conhece minimamente, sabe que (tirando a quimio), é isso que me custa atualmente.

Não poder levar a Rita ao CIAQ, dizer bom dia e conversar com as colaboradoras do nosso infantário. Ver a Rita entrar na sala diariamente e ser bem recebida pelos amigos é um bálsamo diário tão bom para o coração.

Não poder ir trabalhar para a universidade, partilhar da “euforia” do Horizonte 2020 e saber que por lá já se esforçam em dobro para manter a honra da casa. Saber que em breve temos uma revista a sair, um Research Day em grande e não vou poder viver isto, que tanta adrenalina boa nos dá.

O simples facto de não poder estar com pessoas normalmente, ir a um café ou almoçar fora com o meu charmoso,  sem o medo de um vírus, bactéria ou qualquer treta do género.

Mas hoje regressei a uma normalidade “forjada”. 

Como o Nuno estava pela capital, fui levar a Rita à escolinha. Revi muitos sorrisos e palavras de incentivo das colaboradoras do CIAQ e senti-me quase “normal”.

Fui ao centro de saúde pedir a minha Junta Médica, porque como me disse uma amiga: já que tens cancro, aproveita os benefícios fiscais! Acho que preferia pagar impostos a dobrar...aliás, acho que o Passos Coelho já implementou essa medida para todos, doentes ou não!

A quimioterapia tem-me tirado muita coisa. A normalidade das nossas vidas é julgada com muita leviandade e desprezada em quase todos os momentos da nossa vida. Até que alguém liga um interruptor e lá se vai essa normalidade tomada como garantida.

Hoje no centro de saúde, as duas funcionárias que me atenderam simpaticamente (é esse o efeito de um lenço na cabeça ou uma peruca), quase se pegavam por um pormenor burocrático...palavras agressivas, olhares torcidos e eu pasmada a olhar para as duas. Valerá a pena isso?

Se temos de passar o dia todo com alguém, num espaço confinado, não será racional e inteligente tentar manter uma cordialidade e um ambiente agradável?

Esta minha postura não adveio do cancro, note-se. Já partilhei espaços , conversas, jantares, etc., com pessoas com as quais não criei, nem criarei jamais, empatia. Mas maltratar e ser mal-educado parece-me tão mal. Mas, não quero dar lições de moral a ninguém.

Prosseguindo com a normalidade, fui às compras, porque aqui em casa a despensa estava em crise. Claro que ir às compras, no meu caso, é aqui ao supermercado mais pequeno em Ílhavo, a uma hora em que os velhotes andam a escolher maçãs, mas é o mais seguro.

E ainda trabalhei (de casa), fiz uma torta de doce de abóbora e preparei o jantar, hoje com convidados muito importantes, a Sandra e o João. Medalhões de pescada com beringela (em cama de legumes e creme de soja) no forno! Arriscar um prato de peixe para o João (vulgo Moebios) é dose! Mas ele gostou...os outros comem qualquer coisa J

Convidar pessoas cá para casa sempre me deu muito prazer. Gosto de ter a casa movimentada e com este casal amigo há sempre boa disposição.

E a boa disposição, comida na mesa e amigos trazem de volta dos dias de normalidade. 

Beijinhos :)

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