Estamos a alcançar o patamar “desejado”, se é
que se pode falar em desejado quando se fala de cancro. Ontem realizei mais uma
ecografia para avaliarmos a regressão do bicho e a potencial necessidade de uma
ressonância nesta fase. Para quem nunca fez uma ressonância, imaginem-se dentro
de uma betoneira com todo o barulho e sem se poderem mexer. A sensação é essa!
Não faremos, nesta fase, a bendita
ressonância, porque felizmente a ecografia foi suficiente para mostrar que os
malditos tecidos cancerígenos continuam a perder espessura. É disso que se
trata num cancro como o meu, o chamado cancro inflamatório da mama. É raro, mas é dos mais agressivos e fatais, muitas vezes mal diagnosticado
e confundido com infeções, mastites, etc. Não cria nódulos, não ocupa um
determinado espaço. Simplesmente se apodera do próprio tecido mamário e avança
galopante....a besta!
O meu querido oncologista fez questão de estar
presente na ecografia. É de uma atenção este senhor, que me faz voltar a acreditar
que há anjos por aí. Quer acompanhar-me, quer dar-me segurança e fazer com que
eu própria acredite na recuperação. Ontem, enquanto esperávamos pelo
radiologista, contou-me acerca do 25 de abril, como ele o viveu na altura. É de
uma grandiosidade este senhor, que às vezes quase me esqueço o porquê de o
conhecer J
Também é realista e seguro, inerente a muitos anos de
experiência no ramo. Quando o radiologista que me diz que não deteta nódulos
nem espessamentos muito suspeitos, ele rapidamente interrompe e relembra a
mastectomia que se impõe num cancro deste género. "Já aceitei a sentença",
disse-lhe eu em tom de brincadeira, mais para o descansar a ele do que a mim.
Sei que muita gente fica algo chocada quando
se fala em mastectomia, especialmente as mulheres. Acreditem que não quero
chocar ninguém. Falar e desabafar ajuda a despertar consciências e pessoalmente
também me ajuda a aceitar.
Aceito a sentença como medida de profilaxia e
escolho viver sem esta ameaça. Porque a vida faz-se de escolhas e hoje o dia
até é simbólico. Vai doer, vai custar muito a recuperar e vai afetar-me a nível
físico e psicológico para o resto da vida. Mas, acima de tudo, vai aumentar as minhas probabilidades
de cá andar mais uns anitos. E podendo escolher, porque não escolher o que é
melhor a longo prazo?
Obrigado pelas imensas
manifestações de carinho.
Sinto-me acarinhada todos os dias!
Sinto-me acarinhada todos os dias!
Beijinho