Já me é difícil calcular mentalmente o número de dias em que estive ausente do blog. Não posso culpar a quimioterapia, porque muita gente não entende o conceito do chemo brain e olha para mim com aquele ar de condescendência, como quem diz "Olha a parva. Já terminou a quimio há 6 anos e ainda usa isso como desculpa!".
Usemos, pois, os meses....muito mais fáceis de contar. Desde outubro ausente da blogoesfera. Confinamentos, nova mudança de casa, malas, caixas, trabalho, projetos e projetinhos...alguma coisa tem de ficar para trás, e por norma sou eu...o exercício físico....os livros...e o blog, entre tantas outras coisas.
Aprendi a olhar para o que se não se pode fazer como pacífico e aceitável. Aprendi que o que não tem remédio, remediado está e assim não sofro (tanto) por não fazer tudo o que gostava de fazer. Aprendi que se deve valorizar os pequenos momentos no sofá, o andar sozinha na horta com a companhia das abelhas (e toupeiras), o ficar sentada no carro com um livro enquanto a criança treina.
Coisas pequenas, claro. Coisas que podem parecer parvas a muita gente. Coisas que para muitos são luxos...mas daqueles luxos que todos podemos ter se assim o quisermos e se assim orientarmos a nossa vida.
Cada vez mais sinto que o maior luxo é mesmo termos saúde, ignorando o cliché. Hoje foi dia de exames de rotina, com a sempre simpática Dra. Isonda. Para a semana, há consulta de oncologia, por isso convém ver se este belo organismo está em bom estado para a revisão com o Dr. Leal. Estar no vestiário antes de exames é um alerta para tudo o que de bom há cá fora. O cancro tirou-me a "leviandade" com que se fazia os exames médicos antes dele surgir na minha vida e duvido que me devolva essa sensação algum dia.
Hoje também era o Research Summit na universidade e eu tive de andar em jejum até às 11 e tal...o que vale é que as máscaras disfarçam o mau humor e o meu ar esfomeado. Tive de dividir a ansiedade pelos exames e pelo evento...e achar o ponto de equilíbrio.
Deixo-vos a imagem de um quadro que comprei recentemente e que traduz o estado de espírito desta jovem quarentona.
Beijinhos e façam exames de prevenção.
Não custa nada prevenir. Custa bem mais depois.
Vera
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