O meu primeiro cancerversário celebra-se hoje.
É uma expressão que adoptei das guerreiras norte-americanas com cancro inflamatório da mama com quem troco diariamente umas palavras. Deram-me força e alento, apesar da distância física. Muita informação, muito apoio e acima de tudo muita partilha de sentimentos e de experiências de mulheres com o mesmo tipo de cancro de mama.
Faz hoje 1 ano que recebi o diagnóstico, a biópsia que me dizia que era um carcinoma invasor. Tudo tão novo naquela altura, tudo tão inesperado. Sabia lá eu que podiam ser invasores ou não invasores (=in situ), que podiam ser lobulares, tubulares ductais, inflamatórios....que sabia eu de cancro?
Pouco, muito pouco. Ao longo deste ano de luta, aprendi muito sobre cancro, especialmente acerca do cancro da mama. Assustei-me muito quando investiguei o meu tipo específico de cancro. As probabilidades de sobrevivência assustaram-me brutalmente e houve momentos em que nada fazia sentido e a luta interna para me manter bem disposta e coerente era tão grande.
Sobreviver para ver a Rita a crescer, nada mais do que isso, pedia eu a mim mesma.
Lembro-me perfeitamente de estar na festa de Natal da escolinha da Rita. Ia voluntariamente atuar numa das peças e só pensava que tinha cancro enquanto tentava levar os fantoches do circo dos animais até ao fim. Olhava para ela no palco e as lágrimas a querer sair. Mas ela, tão cheia de vida, tão única e teimosa foi essencial neste processo.
E foi a isso que me agarrei, à minha filha teimosa. Talvez tenha herdado a teimosia da mãe, dizem as más-línguas. Lutei, vivi dias menos bons durante a quimioterapia, sujeitei-me à mutilação de uma parte do meu corpo, enfrentei a radioterapia e aguentei as dores nas queimaduras no corpo enquanto a minha querida fisioterapeuta me "recuperava" o braço. Agora a imuno e hormonoterapias...que provocaram uma menopausa precoce, com aqueles calores maravilhosos, mas bem pior que os calores são o inchaço das mãos e dores nas articulações. Peanuts, comparado com tudo o resto.
Passou um ano a correr. Parece que ainda ontem ia para a primeira quimioterapia, hoje espero e desejo nunca mais a voltar a sentir a entrar nas veias. Ainda sem coragem para dizer que estou livre. Não estou, nem nunca estarei totalmente. Preciso que passe tempo, muito tempo. Já passaram 6 meses depois da cirurgia e tem estado tudo calmo. Como diz o meu querido oncologista, precisamos que o tempo passe depressa e bem, para diminuir as chances de recidiva.
Agradeço todos os dias a Deus, ou ao destino, que tenha colocado este senhor na minha vida. Cuidou, e cuida, de mim com uma atenção que nenhum dinheiro do mundo paga. Obrigado Dr. Leal da Silva, pelas coisas tão pequenas como um sorriso, um abraço ou pelas nossas conversas sobre fins de semana no nosso Portugal.
Para a semana, segundo check-up trimestral. Vai estar tudo bem e vou voltar ao trabalho em janeiro. Hoje fui a mais uma junta médica. Mais uma experiência sobre-natural, mas hoje não é dia para criticarmos o nosso sistema.
Obrigado a todos que estiveram comigo este ano, que me apoiaram nas coisas maiores e mais pequenas. Este cancro meteu-se com muita gente ao alojar-se no meu corpo.
Bjinho,
Vera
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