Quando me pediram para escrever sobre o meu cancro para o jornal da universidade, não hesitei em aceitar.
Só perguntei qual a extensão do texto...não vá dar muito trabalho à edição do texto. Escrever sobre o que se passou, e passa, comigo não me custa. Custa é limitar as palavras.
Só perguntei qual a extensão do texto...não vá dar muito trabalho à edição do texto. Escrever sobre o que se passou, e passa, comigo não me custa. Custa é limitar as palavras.
Vou tomar a liberdade de postar aqui o texto que enviei, com as guidelines assinaladas a negrito.
"Acerca do meu cancro:
O diagnóstico de um cancro mexe com toda a nossa estrutura física,
emocional e espiritual. Mexe connosco, com a nossa família, amigos, vizinhos,
colegas de trabalho, e por incrível que pareça, até com desconhecidos, porque
um lenço ou uma careca ainda assustam muita gente.
Quando me foi diagnosticado cancro de mama inflamatório aos 33 anos, com uma filha de apenas 3 anos, não me restou senão lutar, agarrar-me às melhores probabilidades deste cancro tão raro e agressivo e acreditar no médico que me acompanha. Não deixei de investigar, de ler muito e de tentar acompanhar o que se fazia a nível de investigação neste tipo específico de cancro e de aprender a ajudar na luta “convencional” a nível de alimentação e suplementos nutricionais.
Quando me foi diagnosticado cancro de mama inflamatório aos 33 anos, com uma filha de apenas 3 anos, não me restou senão lutar, agarrar-me às melhores probabilidades deste cancro tão raro e agressivo e acreditar no médico que me acompanha. Não deixei de investigar, de ler muito e de tentar acompanhar o que se fazia a nível de investigação neste tipo específico de cancro e de aprender a ajudar na luta “convencional” a nível de alimentação e suplementos nutricionais.
Felizmente tem sido uma luta desigual, porque o cancro está sozinho e eu
tive imensa gente comigo na luta. A minha esfera protetora conseguiu
proteger-me, ajudar-me a suportar os efeitos secundários da quimioterapia, da
mastectomia e da radioterapia. Não me esqueço dos piores momentos do ano de
2014, do medo, do pânico de que a quimioterapia não resultasse, das dores da
cirurgia, das queimaduras da radioterapia. No entanto, regressada ao trabalho e
vendo em retrospetiva o ano passado, as primeiras recordações são as das
surpresas, dos presentes, dos mimos, do companheirismo e da amizade que senti ao
longo do ano. Não consigo dizer que venci esta guerra, porque o cancro é
matreiro, é uma doença crónica. Fica, acima de tudo, a sensação que esta
batalha é ganha no dia-a-dia.
Pré-diagnóstico: Antes da doença aparecer, havia já
alguma preocupação, ou com exames de despiste por antecedentes familiares, ou
com a alimentação, ou com exercício físico?
Em relação à minha
vida pré-cancro, não considero que tivesse uma vida sedentária, mas a prática regular
de exercício era muito recente. Tinha começado a frequentar na altura o ginásio
2 x por semana apenas uns meses antes. A nível de alimentação, não posso dizer
que cometesse muitos erros, mas não tinha claramente a consciência alimentar
que tenho hoje. No que diz respeito a cuidados médicos, desde o nascimento da
filha em 2010 que fazia ecografias de 6 em 6 meses devido à densidade do tecido
mamário, mas apenas como prática preventiva, porque não havia antecedentes
familiares. Nada na minha vida me fazia sequer pensar em ter um cancro tão
agressivo e tão nova.
Diagnóstico: Numa altura em que se prevê que os números
de casos de pessoas com cancro aumentem substancialmente, confirma-se que o
segredo do sucesso do tratamento passa por um diagnóstico precoce?
É essencial o
diagnóstico precoce, sem dúvida. Esse eu tive, mesmo que isso no meu caso não
signifique muito, porque quando o cancro de mama inflamatório é diagnosticado,
a doente já se encontra pelo menos no estadio III da doença.
No entanto, o
sucesso do tratamento passa por outro vetor: o tempo de ação. É igualmente
essencial que o tratamento seja iniciado num espaço de dias, depois de
diagnosticado e estadiado. Da minha experiência com o nosso sistema público de
saúde, depois de semanas a fio à espera, recomendo que sejamos pró-ativos. Se
eu não tivesse procurado alternativas, provavelmente não leriam esta história.
Tratamento: Este processo deixa mazelas muito mais
profundas do que aquelas perceptíveis ao olhar, nomeadamente nas mulheres. Como
é que se lida com a perda de cabelo e de outras características tão diretamente
relacionadas com a condição de mulher?
Quando se trata de
uma questão de vida ou morte e a vontade de sobreviver para ver os filhos
crescerem é mais forte, a perda de cabelo ou da mama tornam-se meros efeitos
secundários. Eu continuei a ser eu, mesmo depois de perder o cabelo, as
sobrancelhas, as pestanas…continuei a brincar com a minha filha, a querer estar
com pessoas, a gozar com a minha careca e a emprestar a peruca à minha filha.
As cicatrizes e marcas físicas estão cá e lembram-nos dessa luta, mas também
nos lembram que estamos vivos. São marcos femininos, mas nestas alturas pesa-se
o que é verdadeiramente importante: a vida.
Pós- tratamento: Passada a fase dolorosa, chega a altura
de voltar à rotina e encarar o mundo, agora talvez com outros olhos. Quais as
principais mudanças, visíveis ou não, na vida de quem vence o cancro?
É difícil avaliar a
nossa mudança. Será bem aceite dizer que mudamos para melhor?
Fisicamente a luta
deixou as suas marcas, algumas debilidades e cansaço, e, pelo lado positivo, um
corte de cabelo novo. Psicologicamente, sinto-me mais calma, com mais
ponderação. Sei que a cada decisão que tome, a nível pessoal ou profissional, a
experiência do cancro me vai fazer pensar primeiro na vida que eu quero para
mim e para a minha família, nas prioridades e na necessidade de viver todos os
dias com alegria.
Mensagem: Se alguém soubesse agora que lhe tinha sido
diagnosticado cancro e te pedisse um conselho, o que lhe dirias?
Falar. Libertar. Desmistificar.
Sei que choquei algumas pessoas com o blog que mantenho desde o diagnóstico. Suscitei críticas positivas e negativas, mas o blog cumpriu o seu objetivo: ajudar a tolerar a minha vida com cancro. Não somos todos iguais, mas se falarmos do cancro, ele torna-se menos tabu, deixa de nos assustar tanto. Decidi falar abertamente sobre a minha experiência e fez-me bem. Faz-me bem."
Sei que choquei algumas pessoas com o blog que mantenho desde o diagnóstico. Suscitei críticas positivas e negativas, mas o blog cumpriu o seu objetivo: ajudar a tolerar a minha vida com cancro. Não somos todos iguais, mas se falarmos do cancro, ele torna-se menos tabu, deixa de nos assustar tanto. Decidi falar abertamente sobre a minha experiência e fez-me bem. Faz-me bem."
Obrigado UA.
Bjinho
PS1...Antes que me acusem de ser funcionária pública a publicar em hora de serviço, já piquei o ponto :)
PS2...Disponível aqui: http://uaonline.ua.pt/pub/detail.asp?c=41478
Um grande ATCHIM para ti!
ResponderEliminarAtchim vizinha de gabinete:)
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