quarta-feira, 24 de junho de 2015

Lidar com a diferença

Não é fácil lidar com a diferença aos 34 anos.
Não é fácil lidar com a diferença aos 5 anos.

Esta semana já me ri imenso à custa da minha filha.
Andávamos ontem no marché (vulgo Intermarché) à procura dos ingredientes para fazer "nutella" caseira e eis que passa por nós um senhor, com uma daquelas motas para os mais idosos. Já é normal vê-lo por estas bandas, mora aqui perto da Vista Alegre, mas ainda não nos tínhamos cruzado assim tão perto, de maneira a que a Rita reparasse que o senhor não tem uma perna.

Estava eu a conversar com a senhora da zona da fruta e eis que a Rita me pergunta porque é que o senhor pode andar de mota ali dentro e os outros têm de andar a pé. Expliquei-lhe que o senhor provavelmente teria tido um "dói-dói" e os médicos lhe tinham tirado a perna. Como não podia andar, usa a mota para vir às compras. Pareceu-me a explicação mais lógica, não lhe omitindo que, de facto, ele apenas tem uma perna.

O mais engraçado foi a resposta da catraia. Ri-me eu e a senhora, porque de facto a verdade não ofende ninguém e sendo bem aligeirada, dá para rir e chorar por mais. Responde ela: "Mas oh mamã, tu tiraste uma mama por causa do "dói-dói" e vens às compras a pé!"

Esta indignação heróica da minha filha fez valer o meu dia. É por isto que eu digo que vale a pena tudo o que passei, para a poder acompanhar neste processo de crescimento. O à-vontade dela com a doença, com a ausência, a aceitação da mãe como ela é, faz-me sentir orgulho nela. Faz-me querer ser mais e melhor.

Lamechices à parte, hoje de manhã perguntou porque é que agora os meninos se casavam com meninos e as meninas com meninas, isto enquanto delicadamente se penteava para ir para a escola. Respondi-lhe com a minha opinião sincera: cada um se casa com quem quer, desde que seja feliz.

Vi que ela ficou satisfeita com a resposta. Gosta simplesmente que sejamos sinceros com ela.
Pensei que já estava safa das perguntas, quando ela remata com: "Oh mamã, porque não te casas com o papá!!!"

Oh diabo...


terça-feira, 16 de junho de 2015

1 ano

Hoje, já bem pela noite dentro, fará 1 ano em que fui operada para tirar a mama, onde ainda havia atividade residual do cancro, como se veio a comprovar pela biópsia final. O raio do bicho era forte!

A noite anterior foi brindada com amizade e carinho, por parte de pessoas especiais que me acompanharam desde o início do cancro, o fim de tarde tinha sido terminado com mensagens de força e algumas lágrimas na cara da prima (certo, senhora rijona Sónia). Lembro-me vagamente de preparar a mala, de preparar a casa e orientar as coisas cá em casa para a minha ausência. Realmente, as mulheres conseguem ter uma capacidade de se focarem em tretas para não pensarem no que as aflige. Roupas arrumadas, despensa cheia, ordens dadas e pronto, tudo pronto para ir e voltar dentro de uns dias, já sem o senhor bicho e meia empenada.

E assim foi. No dia 17 de junho, preparei a Rita para ir para a escola e aguardei em casa durante a manhã. Almocei sozinha e lá pelas 14h chegou o Nuno e os pais dele para irem comigo para o Hospital. Quiseram também estar presentes, por mim e pelo filho, porque o Nuno ficaria lá sozinho enquanto eu estava na cirurgia, que demoraria entre 1h30 a 2h.

Sentia-me calma, apesar de tudo o que aquela cirurgia poderia significar. Calma e feliz por já estar ali, por já estar em condições de ser operada. A Dra. Teresa deu-me algumas palavras de conforto e os dois beijinhos da médica anestesista sanaram por completo o nervoso miudinho que por ali começava a crescer. Estou pronta, disse-lhes eu. E logo depois reclamei que estava muito frio no bloco...

18 de junho, algumas horas depois da cirurgia.
E assim foi, adormeci e acordei passado umas horas. Perguntei se já tinham falado com o Nuno e disseram que a Dra. tinha falado com ele, que tinha corrido bem e que o tecido retirado tinha "bom aspeto" e para eu descansar.

Se eu cumpri as ordens? Claro que não! Assim que me colocaram no quarto, aí pelas 2h da manhã, liguei ao Nuno para saber se já tinha chegado a Ílhavo. Estava tudo bem, já em casa e a menina a dormir. Tal como agora, neste preciso momento em que ela dorme aqui ao lado.

Penso que a nossa memória é muito nossa amiga. Vai apagando certos momentos, ou recordações, para que não nos lembremos da dor, da aflição, do medo. Lembro-me de não conseguir levantar o braço e de doer quando tentava, mas já não consigo lembrar-me com exatidão do grau. Lembro-me de me deitar na mesa da radioterapia e ter de suportar o "esticanço" pelo tempo determinado porque não podia haver movimento enquanto fazia a sessão...mas já eliminei a sensação da minha memória. Parece estranho, mas acho que deve ser melhor assim.

Do que me lembro melhor destas "dores" ou sensações foi a retirada dos drenos...que coisa estranha sentirmos tubos a deslizarem por dentro do nosso corpo. O meu comentário parvo quando vi os drenos retirados foi: "isso estava tudo dentro do corpo?"...a enfermeira só se conseguiu rir à gargalhada.

Passou-se 1 ano.

Se sofri? Claro que sim.
Se doeu? Claro que sim.
Se já fiz a reconstrução? Não, ainda não (esta é para quem não tem coragem de perguntar e me olha para o peito com ar de dúvida), nem é recomendado ainda.
Se vou partilhar a informação quando/se fizer? Sim, porque não...nunca escondi nada, nem vejo motivos para o fazer.
Se estou feliz? Estou, porque estou viva, sem sinais de recidiva e com força de vontade para viver por muitos e longos anos. 



terça-feira, 2 de junho de 2015

Folículo parvo & vit. D

Desde o meu último post que penso diariamente em escrever, mas o cansaço vence à noite.  Continuo fisicamente em modo "low battery", mas a "coisa" há-de eventualmente se resolver por si. Às vezes dou por mim a pensar num acontecimento, em algo que li ou vi e que daria uma bela entrada neste "belo" blog. Mas como não escrevo logo, e à noite preguiço, vão-se passando assim as ideias. Fica para o livro, como me dizem os mais crentes.

Tirando a parte física, estou bem. Estes dias pós-análises são sempre algo incertos, pelo menos até chegar o marcador. Por coincidências da vida (e coincidências de muito mau gosto), apareceu-me mais uma espécie de caroço na axila que foi irradiada, no dia em que fui à consulta no Porto. Claro está que nos passa tudo pelo cérebro. Nos fóruns que acompanho, há relatos constantes de recidivas, por isso o medo acompanha-nos diariamente.

Foi pior da primeira vez, há uns 3 meses atrás, até cheguei a contactar o meu oncologista. Vale-me sempre a sua assertividade e simpatia.SIM, já é a segunda vez que isto acontece e não tem piada nenhuma, sra. axila. Acontece que durante a radioterapia, a pele ficou com queimaduras e ao cicatrizar parece ter "bloqueado" os poros/ folículos. Também era suposto que todos os folículos morressem com o "churrasco", mas há sobreviventes e por vezes dão estes magníficos sinais de vida.

Por magia quase, chega o marcador com valores normais e eu quase deixo de sentir o bendito folículo. Ai esta cabecinha faz cada filme, só me entende quem por lá passou.

Por falar em cabecinha, esta está a precisar de vitamina D e para a semana espero conseguir contribuir para aumentar esta vitamina no meu corpo. Apesar de não poder apanhar sol à vontade (nem à vontadinha sequer), preciso de sol nas pernas e de Vigantol.


Estou com défice de vit. D e logo esta que é tão importante no nosso organismo.  A função mais abrangente da vitamina D é o equilíbrio do funcionamento do sistema imunitário. Tenho visto muitos artigos em que relatam a importância dela no processo de tratamento de cancros variados. Esta vitamina interfere ativamente no processo de diferenciação celular, evitando que as células se tornem cancerígenas. É por isto que comecei a monitorizar também a sua presença no meu organismo, e surpreendentemente, os meus valores roçavam o limite de défice extremo. A falta de sol durante todo o ano de 2014 não ajudou em nada, claro.

Quando forem ao vosso médico de família pedir análises ao sangue, peçam para ver a vit. D.
É uma coisa simples e barata, e o seu equilíbrio no nosso organismo pode ajudar a prevenir certas doenças, incluindo depressão.

Bjinho
vera


PS: Se quiserem saber mais sobre vit. D, leiam aqui