quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Por caminhos incertos, à procura de certezas...

Hoje olhei para trás...tive de o fazer e...caramba, que caminho tenho trilhado desde finais de 2013. Estou cansada só de o ter de relatar, nas mais variadas formas...biópsias, análises ao sangue, Tac's, RMN's, cintigrafias, Rx's, ecocardiogramas, ecografias, mamografias, densitometrias...Ca 15.3 para trás e para a frente...aliás, sempre para baixo, felizmente.


Ando há 2 semanas a preparar o meu processo clínico em formato digital para envio para o que os seguros chamam de Segunda Opinião Médica (Ask Best Doctors). Nunca poderei, na minha vida, falar mal do meu seguro de saúde ( a não ser quando descontam as mensalidades dos 3). Tem sido um fiel amigo e apesar de ter tido de suportar várias franquias agravadas, o certo é que o seguro sempre foi suportando as contas mais pesadas.

Nesta fase deste meu "desencontro", esbarrei novamente na incerteza e no medo de não estar a fazer as melhores escolhas. Consultei, até ao momento, dois médicos diferentes, em hospitais diferentes na área da cirurgia reconstrutiva. Claro está que não me podiam facilitar a vida. Deram-me dois caminhos diferentes, opiniões contraditórias e eu baralhei-me ainda mais.

Estou a par de tudo o que envolve reconstrução de uma mama. Sei quais os métodos, quais as recomendações, quais as taxas de complicação em cada método...não fosse eu quase médica destas andanças:) Só não sei qual o melhor para o meu caso.

Pensava que sabia, estava convencida que ambos os cirurgiões plásticos iam dizer a mesma coisa:
 "D. Vera, como fez muita radioterapia, não poderá fazer A nem B, apenas o C."
...e eu apenas confirmaria o meu "veredito caseiro". Mas não, eles tinham de inventar e baralhar este meu cérebro.Um disse para fazer o A, o outro o C ou talvez mesmo o D.  Isto são apenas letras a marcarem métodos, nada que ver com copas, não se baralhem.

E a Vera perguntou...então e se eu quiser fazer X, o que acha? E "prontes" um diz que sim, outro diz nem pensar. E entenderem-se, não? Dizerem a mesma coisa a alguém que anda à procura de certezas?
Falei com as minhas amigas americanas, há de tudo por lá também, mas a maioria recomenda apenas 1 dos métodos e costumam estar sempre bem informadas e aconselhadas.

Resumindo, 2 semanas a compilar digitalmente o meu processo clínico, aquele lindinho organizado com separadores...entre scans, downloads,  renomear ficheiros e organizar fotos, perdi algumas horas. Não fiz o meu processo completo, apenas pontos-chave no tratamento e enviei ficheiro com 150Mb para a seguradora.

Agora, depois de conversar com a enfermeira e de ela organizar a informação, o processo seguirá para um especialista, para emissão de relatório acerca do meu caso e das minhas dúvidas existenciais. Deve seguir para os Estados Unidos, segundo me disseram. Espero que venha um relatório assertivo e com o preto no branco.

Entretanto, vou esperar com calma. É uma coisa que não me tira o sono, tira-me mais a paciência mesmo, porque não gosto de incertezas ou dúvidas. Se não estiver certa do que devo fazer, adio.

Até aos 90 anos tenho tempo!

Beijinho


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Chegou o outubro rosa!

Sim, dizem que é o mês rosa, mês da chamada de atenção e afins para o cancro da mama. Um mês que as pessoas que já tiveram cancro de mama sentem de forma mais intensa, mais dolorosa. Para mim, não há outubro rosa, todos os meses são meses rosa. Todos os meses sinto o laço rosa (quase à volta do pescoço).

As marcas físicas estão muito presentes. O cateter ainda está aqui no peito disponível para uso e o processo de "mentalização" para a reconstrução aviva memórias e sentimentos.

E este sentir pode ser tão somente recordar. Recordar que há 2 anos estava esturricada da radioterapia e as cicatrizes estavam tão frescas ainda. Fisicamente estava um trapo, foi muita quimio, cirurgia, radioterapia, imunoterapia e hormonoterapia... tantas terapias que qualquer coisinha me punha cansada e qualquer tentativa de me concentrar em algo útil saía frustrada.

Passados 2 anos, ainda não me sinto a mesma pessoa, aliás nem poderia sentir. O Tico e o Teco sofreram bastante e ainda hoje sinto as sequelas...memória de "Dóri", concentração dificultada, incapacidade de engolir muitos sapos ou guardar rancores mesmo quando me apercebo que me estão a prejudicar...esta se calhar já tinha antes da quimio :)

Quem ouve as palavras "tens cancro", jamais pode voltar a ser a mesma pessoa. E ainda bem...quem consegue sair dele, vive mais desprendido, mais feliz e mais rosa...rosa por todo o lado, mesmo quando o mundo à nossa volta teima em ser mais para o negro, quando as contas se acumulam ou quando vês pessoas boas de coração sempre aflitas e as más sempre na mó de cima.

No fundo, o outubro rosa devia ser uma chamada de atenção, mas com tanta falta de informação que tenho visto, mesmo em pessoas ditas letradas, não sei se 1 mês por ano é suficiente para esta tarefa herculiana.

Ao não esconder, ao partilhar desde o início, vou ajudando a espalhar a palavra, pelo menos relativamente ao cancro inflamatório da mama, desconhecido inclusivamente na comunidade médica. Já tive de explicar a vários profissionais de saúde o que era o cancro inflamatório e já levei respostas do género "oh menina, inflamatórios são todos, porque o cancro envolve inflamação"...E não, não lhe fui às trombas, pacificamente mandei-o ir ao Santo Google. Para quê ensinar quem não quer aprender?

Prevenir é sempre o melhor remédio...vigilância, alimentação, hábitos saudáveis e pouco rancor e azedume nas nossas vidas. O cancro não escolhe idade, sexo, raça, cor de cabelo ou altura...escolhe-te a ti quando quiser, quando lhe apetecer. Se puderes não contribuir para este hóspede indesejado, tanto melhor.

Sejam felizes e larguem os rancores e as amarguras. Tornam-nos ácidos por dentro, literalmente. E imaginem quem adora ambientes ácidos??

Beijinho

Vera