As marcas físicas estão muito presentes. O cateter ainda está aqui no peito disponível para uso e o processo de "mentalização" para a reconstrução aviva memórias e sentimentos.
E este sentir pode ser tão somente recordar. Recordar que há 2 anos estava esturricada da radioterapia e as cicatrizes estavam tão frescas ainda. Fisicamente estava um trapo, foi muita quimio, cirurgia, radioterapia, imunoterapia e hormonoterapia... tantas terapias que qualquer coisinha me punha cansada e qualquer tentativa de me concentrar em algo útil saía frustrada.
Passados 2 anos, ainda não me sinto a mesma pessoa, aliás nem poderia sentir. O Tico e o Teco sofreram bastante e ainda hoje sinto as sequelas...memória de "Dóri", concentração dificultada, incapacidade de engolir muitos sapos ou guardar rancores mesmo quando me apercebo que me estão a prejudicar...esta se calhar já tinha antes da quimio :)
Quem ouve as palavras "tens cancro", jamais pode voltar a ser a mesma pessoa. E ainda bem...quem consegue sair dele, vive mais desprendido, mais feliz e mais rosa...rosa por todo o lado, mesmo quando o mundo à nossa volta teima em ser mais para o negro, quando as contas se acumulam ou quando vês pessoas boas de coração sempre aflitas e as más sempre na mó de cima.
No fundo, o outubro rosa devia ser uma chamada de atenção, mas com tanta falta de informação que tenho visto, mesmo em pessoas ditas letradas, não sei se 1 mês por ano é suficiente para esta tarefa herculiana.
Ao não esconder, ao partilhar desde o início, vou ajudando a espalhar a palavra, pelo menos relativamente ao cancro inflamatório da mama, desconhecido inclusivamente na comunidade médica. Já tive de explicar a vários profissionais de saúde o que era o cancro inflamatório e já levei respostas do género "oh menina, inflamatórios são todos, porque o cancro envolve inflamação"...E não, não lhe fui às trombas, pacificamente mandei-o ir ao Santo Google. Para quê ensinar quem não quer aprender?
Prevenir é sempre o melhor remédio...vigilância, alimentação, hábitos saudáveis e pouco rancor e azedume nas nossas vidas. O cancro não escolhe idade, sexo, raça, cor de cabelo ou altura...escolhe-te a ti quando quiser, quando lhe apetecer. Se puderes não contribuir para este hóspede indesejado, tanto melhor.
Sejam felizes e larguem os rancores e as amarguras. Tornam-nos ácidos por dentro, literalmente. E imaginem quem adora ambientes ácidos??
Beijinho
Vera
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