terça-feira, 6 de outubro de 2020

O bendito outubro rosa.

Chegou o outubro rosa. 

Toda a gente pode falar de mamas, postar laços cor de rosa e fotos de mamas por todo o lado e não há condenação social. 

Nunca vi o outubro como rosa, nem gosto particularmente que se comemorem coisas que deviam estar enraizadas na nossa mente e nos nossos hábitos. Prevenir durante os 12 meses. O outubro é só rosa, nada mais.

Não há preferências, não há maneira de nos excluirmos da prevenção, só porque não temos ninguém na família com cancro. É uma ilusão tão grande, mas ainda paira na cabeça de muita gente. Depois chega o susto, porque achamos que só acontece aos outros.

Devemos ter medo q.b., mas aquele medo que nos faz ter atenção com os sinais, que nos faz ouvir o nosso corpo e nos faz seguir os protocolos de exames de rotina. Não o medo da vida...seja ela rosa, amarela ou às pintinhas.


Em 2014, peguei num texto que enumerava os fatores de risco para ter cancro de mama e analisei à luz da minha experiência. Já lá vão alguns anos, felizmente, mas copio abaixo o texto. Vale a pena recordar tanta coisa que não encaixava no "perfil".

Enjoy it :)

Vera

"Analisando os fatores e a minha situação em concreto:

  • Idade: a possibilidade de ter cancro da mama aumenta com o aumento da idade.
    Eu tinha 33 no momento de diagnóstico.

  • História pessoal de cancro da mama: uma mulher que já tenha tido cancro da mama (numa mama), tem maior risco de ter a doença na outra mama.
    Nops...

  • História familiar: o risco de uma mulher ter cancro da mama está aumentado se houver história familiar de cancro da mama.
    Apenas uma tia do meu pai teve e já não era jovem. Ainda cá está para contar a história dela.

  • Algumas alterações da mama: algumas mulheres apresentam células mamárias que parecem anormais.
    Fazia ecografias mamárias de 6 em 6 meses. Sempre tudo normal.
     
  • Alterações genéticas: alterações em certos genes (BRCA1, BRCA2, entre outros) aumentam o risco de cancro da mama.
    Fiz esta análise já durante o tratamento e deu negativo felizmente.

  • Primeira gravidez depois dos 31 anos.
    Nops...antes dos 30 e amamentei a Rita durante +- 1 ano.

  • História menstrual: mulheres que tiveram a primeira menstruação em idade precoce (antes dos 12 anos de idade), ou uma menopausa tardia (após os 55 anos) ou que nunca tiveram filhos.
    Fui normal neste aspeto, pelo menos na parte da primeira menstruação. A menopausa não deve ser tardia :(

  • Terapêutica hormonal de substituição: mulheres que tomam terapêutica hormonal para a menopausa, durante 5 ou mais anos após a menopausa.
    Ainda não lá tinha chegado, mas agora já faço hormonoterapia.

  • Raça: o cancro da mama ocorre com maior frequência em mulheres Caucasianas (brancas), comparativamente a mulheres Latinas, Asiáticas ou Afro-Americanas.
    Yep...I'm white.

  • Radioterapia na região peitoral: mulheres que tenham feito radioterapia na região peitoral, incluindo as mamas, antes dos 30 anos, apresentam um risco aumentado para cancro da mama.
    Fiz agora, mas para combater o bicho.

  • Densidade da mama: mulheres com idade mais avançada que apresentam, essencialmente, tecido denso (não gordo) numa mamografia (raio-X da mama), têm risco aumentado para cancro da mama.
    Sempre tive o tecido mamário muito denso, daí as ecografias periódicas que o meu ginecologista sempre me aconselhou.

  • Obesidade depois da menopausa: mulheres obesas, após a menopausa, apresentam um risco aumentado de desenvolver cancro da mama.
    Mais uma vez, ainda não tinha chegado lá, nem me deram a oportunidade de engordar :)

  • Inactividade física: mulheres que são fisicamente inactivas, durante a sua vida, parecem ter um risco aumentado para cancro da mama; estar fisicamente activa pode ajudar a diminuir este risco, através da prevenção do aumento de peso e da obesidade.
    É estúpido, mas eu e o meu charmoso tínhamos entrado para o ginásio poucos meses antes do diagnóstico. Não considero, no entanto, que estivesse fisicamente inativa, até porque com uma pestinha de 3 anos, seria difícil ser inativa cá em casa!

  • Bebidas alcoólicas: alguns estudos sugerem haver relação entre a maior ingestão de bebidas alcoólicas e o risco aumentado de ter cancro da mama.
    A minha boa disposição (quase sempre) não depende do álcool. Beber um copo de vinho ou uma cerveja de vez em quando chega-me. "

domingo, 22 de março de 2020

Ficar em casa!

Hoje é dia 22.

Na prática, não saio de casa desde dia 13 e, felizmente, já estava em tele-trabalho em casa desde dia 11.

Nestas circunstâncias, é preciso saber estar em casa, o que muitas vezes não é fácil, especialmente quando fizemos downsizing na casa e não temos espaço para co-habitar sem ameaçarmos alguém de porrada ou tropeçar em alguma coisa.

Tive um ano de aprendizagem nesta matéria em 2014. Com o cancro e respetivos tratamentos fofinhos, vi-me muitos dias fechada em casa e aprendi a lidar com os silêncios da casa, nesta caso na minha antiga casa. Ai as saudades da Vista Alegre e da minha horta :(

Sempre gostei de estar com pessoas e ver-me rodeada de amigos. No entanto, durante a quimioterapia, aprendi o quão satisfatório pode ser o silêncio e a solidão. Houve dias em que tive companhia, e da boa, mas muitos em que tive de aprender a viver dentro das paredes da casa e a saber respeitar esses limites.

Era-me dito para me resguardar de pessoas além do necessário, contacto só com a família mais próxima...qualquer constipação ou gripezinha num sistema imunitário debilitado podia dar azo a problemas. Ir ao supermercado só se me sentisse bem fisicamente e nas horas de menos gente...ir de máscara era aconselhável.

Confesso que andava com elas no carro e quando saía, pensava que se entrasse de máscara, ia ser alvo de olhares ainda mais piedosos do que aqueles que a careca e o olhar amarelecido me conferiam.

Entrava, procurava o que queria e saía a correr, quase sem tocar em nada, a fugir das pessoas nos corredores e meia paranóica com o contacto físico.  Neste momento, vejo tanta gente na televisão assim, de máscara na rua, nos transportes e nos locais de trabalho que ninguém daria pela minha máscara nem pela figurinha que devo ter feito algumas vezes.

Estar em casa por vontade própria é fácil, estar por necessidade e/ ou obrigação força-nos a outro mindset. Temos de interiorizar que este é um período da nossa vida que somos obrigados a viver, uma fase que vai passar e que novos dias virão, com a liberdade para ir à praia, dar um volta de bicicleta ou só estar com amigos num final de tarde.

Entretanto, vamos fazendo dentro das nossas paredes tudo o que nos é permitido, porque umas vezes é o cancro, outras vezes a depressão, agora o corona....há imensas coisas que nos podem prender a uma casa. É preciso esperar com calma, paciência e respeito pelo próximo.



Beijinho e fiquem em casa.

vera


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

52 Gy

Quando somos diagnosticados com um cancro raro (em que há pouca informação) e somos curiosos, andamos sempre nisto...pode até nem parecer saudável aos olhos de muita gente, mas é vida! Cada um gere as suas ansiedades e expetativas como bem entende.


O caráter raro dificulta o investimento em investigação acerca do cancro inflamatório da mama, mas vai havendo alguma, especialmente nos EUA e há alguns artigos que vão positivamente contrariando as estatísticas e os prognósticos reservados que são associados a este bichinho.

Saiu recentemente mais um artigo acerca da radioterapia pós-mastectomia no tratamento deste tipo de cancro (ver aqui). Felizmente, após o começo conturbado no primeiro hospital, tive a benção de cair nas mãos de um super-médico, que estava a par das recomendações  mais recentes para o tratar.

Hoje ao preparar o meu super dossier médico para uma junta médica, deparei-me com as notas e o relatório final da radioterapia. As minhas 26 sessões de radioterapia diária foram intensas, mas vividas com a calma possível, aquela que está intimamente ligada com o "tem de ser".

52 Gy (gray), em frações de 2 Gy, 5 vezes por semana, 26 dias. Segundo o relatório, eu apresentava um "eritema acentuado na parede torácica" no fim das sessões. Segundo a minha memória, era churrasco mesmo e nada agradável, mas nestas lutas, servem todas as armas e algumas são insubstituíveis.


Bjinho,
vera

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Dores de gente normal

Hoje ao mostrar o blog a uma pessoa, deparei-me com uma ausência prolongada....17 de dezembro foi o último post. E já aconteceu tanta coisa desde então :)

Andei distraída com umas dores de costas que conseguiram colocar a imaginação em altos voos. Uma pessoa normal ponderaria uma queda, mau jeito no desporto, efeito da idade, postura incorreta...está-se mesmo a ver?

Metástases ósseas...claro. No que mais haveria de pensar um sobrevivente oncológico?

É quase como se não tivéssemos direito a dores simples, dores de gente normal. Depois de alguns dias a evitar pensar nas dores, outros tantos a pensar que as inflamações demoram alguns dias a passar, outros em Madrid a tomar anti-inflamatórios na corrida pelos museus, eis que na consulta com o oncologista me queixo e ele, como sempre, ouviu, refletiu e opinou.

Não devendo descurar este tipo de dores minimamente constantes, há que investigar a causa, ou pelo menos, eliminar causas de dor.  Pensamento de oncologista = despistar metástases ósseas. É caso para dizer que o nosso pensamento não anda muito desencontrado.

Fiz uma cintilografia óssea de corpo inteiro na semana passada...aparentemente, no meu belo esqueleto nada indicia "malignidades" e o radiofármaco que me injetaram não foi atraído por nenhumas células, pelo que agora pode ser o que quiser....inflamação, postura, idade....whatever, desde que não seja cancro.


Uma consulta de osteopatia entretanto parece ter ajudado e, mais uma vez, acredito que aliar medicinas/ terapêuticas alternativas com as convencionais só nos trará vantagens. Se alguém me vir mal sentada, inclinada para algum dos lados....relembre-me por favor que fazer uma cintilografia é bem menos agradável do que sentar-se corretamente!!

Beijinhos,
Vera