Aqui está um título que não figura na minha
estante. Já disse umas quantas vezes que o ia comprar e ler, mas ainda não o
fiz. Há livros que compro, quase por impulso, para mais tarde ler, quando
chegar a altura certa. Claro que antes do nascimento da Rita, tinha mais
“impulsos” destes, mas ainda os vou tendo.
Quando ficou determinado o dia em que ia
iniciar quimio, tive um destes impulsos. Ainda era cedo para ir fazer uma
surpresa à Rita na piscina e já era tarde para ir ao trabalho. Precisava de
comprar uma máquina de fazer sumos toda xpto
para a fase que se ia iniciar, daí ter estacionado em frente ao MediaMarkt.
Entrei, vi preços das máquinas (decidi instantaneamente ficar pela fraquinha
que tenho em casa), comprei 2 livros e saí.
Fiquei sentada no carro quase 1h30. Um dos
livros que comprei foi o da Fernanda Serrano. O outro da Clotilde Ferreira, uma
mestre de yoga. Fui lendo na diagonal a história da Fernanda Serrano, fui-me
identificando, e ali fiquei, estacionada naquele parque tão “encantador”. As
pessoas iam passando, olhavam e continuavam nas suas vidas agitadas.
Não sei o que me espanta mais. Se eu a chorar
dentro de um carro com 10 anos e a precisar de estofos novos, se aquela gente
toda a passar e a evitar olhar para poderem seguir despreocupadamente com as
suas vidas. Aliás, acho que me espanta mais o facto de eu estar a chorar dentro
de um carro, num estacionamento público e sem qualquer “pudor”. Sim, às vezes
também me espanto!
De resto, o choro não me tem acompanhado nesta
jornada. Não digo que não chegará o dia em que chore baba e ranho, mas tenho
sido poupadinha no gasto de água. Já fui gentilmente “acusada” de causar
dilúvios por sítios mais variados como Cantanhede, Inglaterra, Algarves....por
aí. Tendo em conta que o nosso governo ainda nos pode taxar mais qualquer
coisinha, há que poupar no que temos garantido para já. Sei que estes dilúvios e
desidratações acontecem por me terem muito carinho e sinto-me quase honrada por
assim o merecer. Espero, ao mesmo tempo, poder arrancar de alguns aqueles
sorrisos inocentes e simples que iluminam o coração.
Porque numa luta como esta, há dias menos bons
e admitir isto é um passo para ganhar a guerra. Esta semana não foi muito
dourada. Com a Rita adoentada por casa, a segunda sessão de quimio foi mais
pesada de digerir. O recuperar foi mais lento, as chamadas demoram a ser
devolvidas, mas acreditem que não o faço por mal. Para atender e não dar
atenção, prefiro mesmo não atender. Hoje
já devolvi algumas e conto amanhã restabelecer contacto com os restantes almas
terráqueas e com os 1500 emails por ler. Há uma amiga lá na UA que maldiz todas
as tecnologias. Por ela, ainda estávamos na era do pombo correio, e claro com
uma costela alentejana!
De resto, vou aliando
armas e estratégias diferentes para dar cabo do “bicho”. Tratamento naturopata,
alimentação mais direccionada, quimio e hormonas felizes. E que melhor do que
vencer uma guerra valendo-me de todas as armas…
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