Perto da hora de almoço, estava eu a sair do Centro de Saúde, para mais uma "pica" de fatores de crescimento*, tinha umas quantas chamadas por atender dos meus irmãos (entendem agora porque digo que sou difícil de contactar). É caso para dizer que uma pessoa já não pode ir furar pneus em paz :)
Motivo da azáfama: uma entrevista de um senhor com cancro na TVI, no Goucha, que demonstrava muito otimismo e força de espírito! Ora pois, não sendo o meu programa de eleição, lá vim eu para casa ver o Goucha. Bendito Meo (publicidade não paga) que me permite recuar nos programas e assistir às gargalhadas da Cristina.
Reconheci imediatamente o Manuel Forjaz, um empreendedor nato, investidor e homem de negócios da "capital". Tinha lido recentemente uma entrevista dele ao Público, em que retratava o seu problema de saúde e modo de vida.
Não foi este o meu primeiro "contacto literário" com o Manuel (permito-me a intimidade). O livro dele, julgo que o primeiro, intitulado "A Bela, Belmiro e Empreendedores" figura na minha estante. O Nuno chegou há uns anos a reunir com ele em Lisboa. É um homem com visão, um business angel que terá ajudado muita gente a crescer no mundo dos negócios e empreendedorismo.
Neste momento, é igualmente um exemplo para muitos, incluindo eu própria. Concordei com quase todas as afirmações dele e vendo a reação das senhoras na plateia do programa, entendo (e quase receio também) chocar algumas pessoas com atitudes e afirmações semelhantes, talvez até com este blog.
Não procuro, deste modo, afirmar que estamos side by side. Ele está bem mais à frente, a nível intelectual, social e etc...mas estamos ambos com cancro, ambos numa luta de igual para igual e a encarar o bicho com a ligeireza possível e necessária. E vê-lo a falar serenamente sobre o cancro, sobre a sua luta de há 5 anos e sobre a sua maneira muito própria de enfrentar a guerra, apenas reforçou esta minha posição.
Há que desmistificar o cancro. Falar abertamente sobre ele, eliminar mitos e tabus. Porque raio as pessoas olham para nós com uma cara estranha quando dizemos que estamos a fazer quimioterapia? Alguém olha para nós de maneira diferente quando dizemos que temos uma infeção num sítio qualquer, uma virose ou uma perna partida?
É uma doença socialmente pesada. Mas outrora terão sido igualmente pesadas a pneumonia, a tuberculose, a gripe...e ninguém olha com comiseração para alguém com gripe! Aliás, afastamo-nos :)
Dizia ele que é estranho quando nos perguntam se estamos bem. Concordo inteiramente. Apetece responder: "Eu estou bem. O meu cancro também vai indo. E você?". Aliás, agora que recordo, já respondi assim....ouch! Uma amiga de há anos veio cá a casa no dia de Natal e perguntou-me, depois de um abraço forte, se eu estava bem. Eu respondi: "Sim, tirando o cancro". Ela basicamente fulminou-me com os olhos...certo sra. Joana V.?
Responder com um tom jocoso ou semi-irónico...faz parte de mim. Já fazia antes do cancro. E o cancro não vai mudar a minha personalidade. Pode mudar o aspeto físico do meu corpo, fazer-me sentir que corro a maratona todos os dias e fazer com que as minhas lentes de contacto colem às pálpebras (que figurinha triste que fiz à conta disto)...mas a essência mantém-se. E mantém-se porque há esperança, há tratamento, há vontade e determinação de vencer, no matter what!
De uma maneira, ou outra, vou recebendo um feedback fantástico, histórias pessoais de quem venceu ou ainda luta contra o bicho ou de quem simplesmente acompanha por gostar de mim, por conhecer alguém que me conhece ou por afinidade na instituição onde trabalho.
A Universidade de Aveiro representa para mim a casa onde me formei inicialmente, onde depositei esperanças de um futuro melhor do que o dos meus pais. Representa igualmente a minha progressão para o mercado de trabalho, a instituição onde voltei a estudar anos mais tarde e onde, quiçá, um dia recomece a estudar novamente...porque aprender faz parte do processo de crescimento.
Bem haja a todos pelas mensagens que tenho recebido.
Keep life simple.
* O que raio são os fatores de crescimento?
São um grupo de substâncias, sendo a maior parte delas de natureza protéica que em associação com os hormônios e neurotransmissores, exercem um papel importante na comunicação entre as células. Basicamente visam estimular o meu sistema imunitário...e são injetados num pneu da minha barriga :)
Já que gostaste de ouvir o "Manel", vê isto:
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=lyoG4fDvb74
Beijo enorme
Ermelinda
Vera minha querida:)
ResponderEliminarOs teus textos já fazem parte da minha literatura diária. Delicio-me com a tua maneira de escrever e consegues arrancar-me algumas gargalhadas. Admiro-te miúda! Beijinhos para a Rita e mil e um para TI. Força!
Cristina Lomba