É disso que se trata. Tenho os meus ups and downs, como qualquer pessoa.
Esta semana tem sido mais para o down. Que o digam as pessoas que me tentaram ligar várias vezes...sem paciência para repetir a conversa com a minha cirurgiã. Sorry...
Precisava de assertividade, de não ter de ser eu a decidir certas coisas, mas terei de ser, porque é de mim e do meu corpo que estamos a falar. Felizmente tenho ainda algum tempo para me inteirar de toda a informação possível, de procurar segundas e terceiras opiniões para que a minha decisão seja o mais fundamentada possível e eu possa descansar sabendo que tomei a opção mais correta.
É lamentável que a nível nacional o apoio tarde (ou se calhar não exista). Depois do meu contacto inicial, aguardo há duas semanas por uma chamada de volta por parte da entidade/ instituição que apoia as pessoas com cancro no nosso país. Felizmente as pessoas do IBC (EUA) substituíram essa parte.
As boas notícias nisto tudo é que já tenho cirurgia marcada para meados de junho. A mama está praticamente pronta a operar (=sair), o que é um alívio brutal. Só de pensar em mais quimio, revolta-se-me o estômago, pernas, coluna, etc etc....
Comprei ontem mais um livro (tivesse eu possibilidades, o meu ganha-pão seria tão diferente!) e logo ao folhear li algo muito interessante. Citando: “aceito o diagnóstico, não o prognóstico”.
A luta vai continuar depois da cirurgia. Depois de cicatrizar (ai credinho, morfina please), virá a radioterapia. É mais uma maneira de matar as células cancerígenas que possam ficar na área da cirurgia. Ainda não sei onde vou fazer, sequer se o seguro vai conseguir cobrir o tratamento, mas uma coisa de cada vez. Primeiro corte e costura, depois o churrasco.
Apesar do meu mau humor esta semana, continuo a ser brindada com miminhos, até uma orquídea recebi ontem. Luísa e Elsa, vocês já deviam saber que eu tenho mais jeito para as couves do que para orquídeas. Afinal, eu consegui matar um bonsai! Aliás, já foram dois...
Obrigada...
vera
Ps. O livro...
Um cancro de mama diagnosticado aos 33 anos. Não procuro ser mais do que um exemplo de luta, mais uma "Maria" a encarar olhos nos olhos esta doença. Não sou a primeira, gostaria muito de ser a última mulher com esta doença. Infelizmente, não serei. Mas serei mais uma a dar armas às "Marias" que se virem confrontadas com este desencontro da vida.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Coisas boas
Hoje tive um dia feliz. Haverá muita gente sem cancro que não
poderá dizer o mesmo, mas terão de aprender a ver beleza da vida nas coisas
mais simples. Simplificar para ser feliz e aproveitar ao máximo o (pouco) tempo
que cá andamos.
Hoje um dos posts do Cancro com Humor foi o seguinte: "Não
podemos ter todos os dias bons mas podemos ter algo bom, todos os dias!". Quando
li, ri-me, porque de facto condizia com o meu estado de espírito. Tive muitas
coisas boas hoje.
Comecei o dia com a rotina de sempre e faço questão que assim
seja enquanto puder. Preparar a minha pestinha para a escola pode tirar-me a
paciência logo pela manhã, mas não há melhor maneira de começar o dia. Não há
peça de roupa que não aperte, nem sapatos que não a incomodem. Genes do pai, claro.
A meio da manhã, conheci pessoalmente a Carla, uma companheira
de luta, outra mulher que luta contra o cancro de mama e que bem entende a
parafernália de sensações e sentimentos que muitas vezes nem expresso, porque
há coisas que só vividas se entenderão…e espero que ninguém que leia isto tenha
de viver. Prefiro que não entendam.
Com uma agenda pouco típica de pessoa em quimioterapia, lá segui
eu para Aveiro, uma vez que teria de enfrentar mais uma junta médica ao início
da tarde, mas não sem antes almoçar com uma pessoa muito querida, a Manuela, no Ki
macrobiótico. Há pessoas que se cruzam connosco em momentos da nossa vida e
justificam plenamente essa entrada nas nossas vidas e um lugarzinho conquistado
no nosso coração.
Orgulho-me de dizer que “passei” na junta médica e desta vez nem
sequer me fizeram a pergunta difícil do “Está com cancro?”. Acho que há que
saber perguntar a mesma coisa, por outras palavras e tive, de facto, uma equipa
médica muito simpática a receber-me hoje. As pessoas fazem realmente a diferença,
nos mais variados setores da nossa vida. Encontrei na segurança social uma pessoa de
uma aldeia perto da minha, lá no sopé da Serra da Freita. O mundo é pequeno, a
vida também. Espero que recupere depressa e bem.
Com as injeções a massacrar a minha medula, retirei-me da vida
social. Há tanta gente que eu gostaria de visitar, tanta coisa que precisava e
queria fazer antes da cirurgia, mas ultimamente ando a reconhecer as minhas
limitações ( e não só as físicas). Acho que já são muitos meses, muitas quimios, muita ansiedade para
a fase que se avizinha, muitas dúvidas a pairar no ar.
Tive azar, dentro do azar que é o cancro de mama. O meu tipo de
cancro é muito raro, praticamente não existe informação sobre ele. Sigo agora
um grupo de apoio americano (IBC- Inflammatory Breast Support) e conheci a
Sandra, para já apenas virtualmente, uma outra portuguesa que já passou pelo
mesmo. É bom ouvir o testemunho e sentir que alguém nos percebe na nossa língua,
se bem que da parte das mulheres americanas tive um feedback que me deixou espantada.
Sugestões, dicas, relatos de experiência e opiniões pessoais fundamentadas de
quem viveu ou vive este mesmo cancro. Maravilhas das tecnologias e de pessoas com bom coração.
Uma outra pessoa que se tem tornado muito presente nestas andanças “tecnológicas”
e que só vi uma vez pessoalmente, hoje escreveu-me uma mensagem fantástica. E
sim, Paula, tens razão, não sou a super-mulher e preciso deixar que me ajudem a
enfrentar a luta. Ainda hás-de um dia desvendar o truque que usaste para te
teres apercebido de certas coisas J
E, como sempre, se Maomé não vai à montanha, eis que a minha
amiga mais presente neste cancro aparece mesmo naquele momento em que o nosso
cérebro se encontra a disparatar (quem raio me mandou ver as taxas de
sobrevivência para este cancro!!).
Esta princesa Sisse tem daquelas pontarias
que não se explicam. Companhia e conversa sempre interessante, um bom ouvido e
uma amizade sincera e digna de se ver.
É bom ver que no meio de tanta coisa que o cancro nos retira,
ele consegue trazer-nos coisas boas. Reforça amizades, cria laços, fortalece
barreiras e faz-nos ver quem realmente gosta de nós e se mantém connosco na
luta.
Não digo isto com ressentimento a ninguém que se tenha afastado
ou esteja menos presente. Há maneiras e maneiras de se viver e lidar com esta
“coisa” e nem todos somos iguais felizmente.
E terminamos a noite por aqui, porque há uma pestinha que
insiste em desafiar a lei do sono!
Obrigado a quem me acompanha, a quem reza por mim e a todos que se lembram de mim por algum motivo
durante os seus dias.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
13
Amanhã, pelas 9h, inicio a 13ª sessão. Sangue, análises, temperatura, tensão arterial e mata-bicho!
Dizem que o 13 é o número do azar, mas a mim não me diz muito...a não ser que ainda faltarão 3 além dessa! Feitas as contas, restam-me quatro semanas de quimioterapia, se tudo correr dentro do expectável.
Já me sinto cansada e mais facilmente "irritável". Ando nisto desde janeiro e o tempo por vezes parece não andar, ou então eu é que não o sei avaliar.
O corpo anda mais molengão e canso-me com tão pouco! Eu, que no ano passado, quis levar este mundo e o outro às costas (trabalho, mestrado, filha, marido, casa...), pareço agora um espectro. Não é só força física que falta, a outra também desvanece quando se luta contra esta porcaria.
Todos temos os nossos momentos. A única diferença é que nas pessoas com cancro, em vez de durante o dia nos interrogarmos acerca do que vamos fazer para jantar ou o que vestir, interrogamo-nos como estará a nossa luta interna, quem vai vencer, quem vai levar a melhor!
Acho que já perceberam que hoje não é um dia bom para escrever!
Obrigada aos que me acompanha, mesmo mal-humorada :)
Dizem que o 13 é o número do azar, mas a mim não me diz muito...a não ser que ainda faltarão 3 além dessa! Feitas as contas, restam-me quatro semanas de quimioterapia, se tudo correr dentro do expectável.
Já me sinto cansada e mais facilmente "irritável". Ando nisto desde janeiro e o tempo por vezes parece não andar, ou então eu é que não o sei avaliar.
O corpo anda mais molengão e canso-me com tão pouco! Eu, que no ano passado, quis levar este mundo e o outro às costas (trabalho, mestrado, filha, marido, casa...), pareço agora um espectro. Não é só força física que falta, a outra também desvanece quando se luta contra esta porcaria.
Todos temos os nossos momentos. A única diferença é que nas pessoas com cancro, em vez de durante o dia nos interrogarmos acerca do que vamos fazer para jantar ou o que vestir, interrogamo-nos como estará a nossa luta interna, quem vai vencer, quem vai levar a melhor!
Acho que já perceberam que hoje não é um dia bom para escrever!
Obrigada aos que me acompanha, mesmo mal-humorada :)
terça-feira, 6 de maio de 2014
De volta_parte II
E não é que também já há algum cabelo de volta à careca!
Quase pronta para aplicar rolos no cabelo...
segunda-feira, 5 de maio de 2014
De volta
Estou de volta!
Não de Viseu, porque de lá já cheguei no domingo, mas sim ao cancro. Retirei-me desta maravilhosa Vista Alegre, onde moramos, para Terras de Viriato por uma noite e fiz um esforço para esquecer o bicho. Precisava de apanhar ar fresco. A minha casa já “transpira” cancro.
Infelizmente, não é recomendável que eu frequente piscina durante a quimioterapia, mas o Nuno e Ritinha não têm de penar por minha causa. Já lhes chega o resto que o cancro nos retira à nossa vida diariamente. Vi a minha filha divertir-se imenso na piscina com o pai, enquanto eu lia um dos livros do José Rodrigues dos Santos e lhe acenava de 5 em 5 segundos.
Custou-me estar ali sentada, não fazer parte do trio maravilha que por vezes parte num fim de semana para deixar para trás as tristezas. Saíamos muito mais antes de a Rita nascer, antes da crise, antes do cancro. Mas voltaremos a sair e em pleno. Faz bem ao corpo e à alma e estas minhas duas alminhas adoram sair de casa....independentemente de ser para casa de amigos, hotel, pensão, tenda...qualquer coisa que não seja casa está perfeito.
Usei muito pouco o computador, redes sociais, internet, etc., esta semana. Às vezes também precisamos de respirar realidade e tenho tido mais necessidade de estar “sozinha”.
Independentemente disso, foi uma semana em cheio:
- quimio na segunda, acompanhado com uma conversa fantástica com o meu oncologista, que me descreveu sítios giros para visitar em Portugal e o meu plano de tratamento para os próximos 5 anos (wtf...cirurgia, radioterapia, Herceptin por um ano de 3 em 3 semanas e comprimidos diários por 5 anos) e logo a mim que evitava tomar sequer um Benuron...ironia do destino!
-4º aniversário da Rita, cuja festa ela adorou. Não queria que ela se visse privada de um aniversário por ter a mãe meia inválida. Obrigada a todos :)
- Nuno no hospital, com uma cólica renal no dia de aniversário da filha!!! É preciso muita pontaria.
- Fim de semana fora.
Tanta agitação e turbulência que por vezes me esquecia que estou a tratar o bicho que ainda cá anda.
Não é normal esquecer-mo-nos que temos cancro. Mas também não é normal não se lembrar de coisas banais, perder sacos de lixo, ir ao quarto buscar qualquer coisa e não me lembrar, querer trabalhar mas não sair nada de jeito, querer fazer e sentir-me incapaz. Como diria aqui o meu charmoso, estou “queimadinha” pela quimio. Espero que o meu cérebro regresse de viagem quando terminar o tratamento.
Por incrível que pareça, já estou em tratamento desde janeiro e estamos em maio, e já só faltam 5 sessões. Não vejo a hora de ir à faca, por mais receio que tenha dessa fase. A quimioterapia é uma tortura física e psicológica também. Criamos ansiedade e expectativa de uma semana para a outra, ansiamos pelos resultados do hemograma como se estivéssemos na prova final da universidade, apenas para que nos possam injetar mais droga no corpo.
Eu não escolhi isto, mas tenho de o viver.
Obrigado às pessoas que rezam por mim. Sei que têm sido muitas e em diversos credos, cada um à sua maneira a lutar a meu lado.
Beijo grande
Não de Viseu, porque de lá já cheguei no domingo, mas sim ao cancro. Retirei-me desta maravilhosa Vista Alegre, onde moramos, para Terras de Viriato por uma noite e fiz um esforço para esquecer o bicho. Precisava de apanhar ar fresco. A minha casa já “transpira” cancro.
Infelizmente, não é recomendável que eu frequente piscina durante a quimioterapia, mas o Nuno e Ritinha não têm de penar por minha causa. Já lhes chega o resto que o cancro nos retira à nossa vida diariamente. Vi a minha filha divertir-se imenso na piscina com o pai, enquanto eu lia um dos livros do José Rodrigues dos Santos e lhe acenava de 5 em 5 segundos.
Custou-me estar ali sentada, não fazer parte do trio maravilha que por vezes parte num fim de semana para deixar para trás as tristezas. Saíamos muito mais antes de a Rita nascer, antes da crise, antes do cancro. Mas voltaremos a sair e em pleno. Faz bem ao corpo e à alma e estas minhas duas alminhas adoram sair de casa....independentemente de ser para casa de amigos, hotel, pensão, tenda...qualquer coisa que não seja casa está perfeito.
Usei muito pouco o computador, redes sociais, internet, etc., esta semana. Às vezes também precisamos de respirar realidade e tenho tido mais necessidade de estar “sozinha”.
Independentemente disso, foi uma semana em cheio:
- quimio na segunda, acompanhado com uma conversa fantástica com o meu oncologista, que me descreveu sítios giros para visitar em Portugal e o meu plano de tratamento para os próximos 5 anos (wtf...cirurgia, radioterapia, Herceptin por um ano de 3 em 3 semanas e comprimidos diários por 5 anos) e logo a mim que evitava tomar sequer um Benuron...ironia do destino!
-4º aniversário da Rita, cuja festa ela adorou. Não queria que ela se visse privada de um aniversário por ter a mãe meia inválida. Obrigada a todos :)
- Nuno no hospital, com uma cólica renal no dia de aniversário da filha!!! É preciso muita pontaria.
- Fim de semana fora.
Tanta agitação e turbulência que por vezes me esquecia que estou a tratar o bicho que ainda cá anda.
Não é normal esquecer-mo-nos que temos cancro. Mas também não é normal não se lembrar de coisas banais, perder sacos de lixo, ir ao quarto buscar qualquer coisa e não me lembrar, querer trabalhar mas não sair nada de jeito, querer fazer e sentir-me incapaz. Como diria aqui o meu charmoso, estou “queimadinha” pela quimio. Espero que o meu cérebro regresse de viagem quando terminar o tratamento.
Por incrível que pareça, já estou em tratamento desde janeiro e estamos em maio, e já só faltam 5 sessões. Não vejo a hora de ir à faca, por mais receio que tenha dessa fase. A quimioterapia é uma tortura física e psicológica também. Criamos ansiedade e expectativa de uma semana para a outra, ansiamos pelos resultados do hemograma como se estivéssemos na prova final da universidade, apenas para que nos possam injetar mais droga no corpo.
Eu não escolhi isto, mas tenho de o viver.
Obrigado às pessoas que rezam por mim. Sei que têm sido muitas e em diversos credos, cada um à sua maneira a lutar a meu lado.
Beijo grande
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