terça-feira, 12 de agosto de 2014

Livro & lágrima

Uma pessoa muito próxima foi passar 15 dias à Alemanha, para desenferrujar a língua. De lá enviou-me três postais, não fosse eu esquecer-me que ela continua firme e hirta na determinação de me acompanhar durante este meu processo de "redescoberta". Trouxe-me o melhor presente que me podem dar, um livro. Um livro que, por acaso, quase me fez chorar no comboio, em frente a umas quantas pessoas, mas ok, eu perdoo-te, tia Sisse.

É uma história simples de uma mulher que se viu confrontada com um primeiro cancro de mama aos 34 e depois com recidiva 12 anos mais tarde. Relata de uma maneira directa e simples todos os fantasmas que assombram quem sofre, ou vê sofrer alguém com esta doença.


Nada de novo, especialmente para mim que já li tantos sobre o assunto. Então o que fez brotar a lágrima?
Simplesmente a descrição que a autora faz quando se apercebe que tem cancro de mama, com um filho de dois anos apenas e em plena quadra natalícia. Pareceu-me tudo tão familiar...apenas muda a idade da criança de 2 para 3.

Pela Rita, e sempre por ela principalmente, a quadra natalícia de 2013 foi passada com a maior naturalidade possível. Houve jantar e almoço de Natal com a família, presentes e diversão. Por dentro, sabe Deus como eu estava, mas tinha de sorrir e de lhe proporcionar o melhor que tínhamos. 

Com 3 anos, o entendimento da vida é ainda relativo e ficar marcada por uma coisa destas assusta-me. Por este motivo, tenho tentado levar este cancro de uma maneira transparente e simplificada, ainda que choque algumas pessoas. Como eu dizia hoje à Stela, a fisioterapeuta que me está a ajudar a recuperar os movimentos do braço e músculo, se nós falarmos acerca do bicho, ele torna-se menos peludo e menos assustador.

Porque, tal como a autora do livro, o medo de deixar de estar aqui para ver os filhos crescerem e para os ajudar a compreenderem as amarguras e as alegrias da vida, é maior do que o medo da nossa morte em si, ainda que estritamente ligados. Estranho, não é?

Pois, foi assim que brotou a lágrima no comboio, prontamente seca com o frio polar que se faz sentir lá dentro.

Já fui menos lamechas :(
Bjinho


Ps. A radioterapia ainda vai durar até terça-feira, mas estamos quase no fim. A pele aguentou-se estoicamente, ainda que agora já muito avermelhada, tipo escaldão de gente parva que não usa protetor solar. 

2 comentários:

  1. Olá!
    Consegui ler o teu blog todo de seguida: tu consegues mesmo prender as pessoas.
    Gosto mais da parte final quando falas mais da tua vida e daquilo que consegues ir fazendo, apenas com uns rodapés sobre "o coiso".
    Quando chegamos a um certo patamar da vida em que aqueles que nos são mais próximos o são porque gostam realmente de nós, daí que não deviam precisar de desculpas quando te ausentas.
    Quero dar-te força para a tua vida extra "coiso". Para a tua filha, marido e família. Aprendi a gostar de ti, mas o "coiso" que se f***!
    Bjs.

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  2. Obrigada pela mensagem :)
    Gosto que tenhas gostado de ler esta minha jornada e, de um certo modo, aprendido a gostar de mim, apesar de não saber quem és.
    Bem haja
    Vera

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