sábado, 25 de novembro de 2017

O tal do ministro!

Reconheço que pode não ser bem verdade, que por vezes o jornalismo interpreta as declarações, adapta-as a um discurso sensacionalista, cujo objetivo é vender. Feito este aparte, quando li a notícia do tal ministro indiano, lembrei-me de alguns nomes menos simpáticos para "elogiar" tal pessoa.

Dizer que ter cancro é uma questão de azar...ok, há cientistas que o dizem e que publicaram inclusivamente um artigo científico  na Science sobre o assunto e que foi muito falado na imprensa, aqui há uns 2 anos atrás (link Público) .

Azar, sim, com azar eu concordo. A sorte não deve querer lá muita coisa quando escolhe alguém para ser injetado com líquidos que destroem a medula, que nos conseguem pôr o estômago em lugares estranhos, que nos fazem sentir sem força sequer para subir um lance de escadas sem arfar.  Acho que a sorte não deve conhecer os prazeres de ser queimado por uma máquina de radioterapia...nem de sofrer com as cirurgias...nem deve sequer saber o que é ter de olhar para a família e dizer que temos cancro. Sim, a sorte não tem nada a ver com cancro. E se diz na Science que é azar, quem sou eu para discordar...

Azar sim, castigo divino é que já me parece um bocadinho exagerado, sr. Ministro!

Bjinho,
Vera

Ps: Fazendo o follow-up da cirugia, continuamos a tratar das cicatrizes e estamos agora mais alerta a outra situação.   Alguns pontos internos decidiram "fagocitar", ou seja, formaram-se pequenos caroços ou cápsulas em volta dos pontos internos e provavelmente estão a acumular "lixo". Vamos dar algum tempo para o corpo se livrar disto, antes de pensar noutras estratégias. Se corresse tudo bem à primeira, não seria mesmo comigo. Deve ser do karma!

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Life goes on

Está na altura de regressar à vida ativa e retomar os meus afazeres. Life goes on, como se costuma dizer.  26 dias depois da mastopexia, é caso para dizer que já não há perigo de queda, ainda que mantenha uma zona com algum hematoma e cicatrizes que me parecem verdes e frágeis, mas ainda vai demorar até me dar a sensação que não vai abrir a qualquer momento:)

Normalmente, o meu cirurgião dá-me um tempo de recuperação indicativo e eu desrespeito-o. Devo estar a ficar velha, o corpo já não recupera como antigamente (antes do cancro e todos os tratamentos) e levo um bocadinho mais a recuperar fisicamente. A sensação de cansaço vai-se atenuando e é preciso agora começar a voltar à normalidade para retemperar energias e vitalidade. A ginástica ainda terá de esperar mais uns dias, porque ainda estamos em fase de "libertação" das cicatrizes e é capaz de ser ligeiramente incómodo andar aos saltos.

Continuarei as massagens de drenagem linfática, com a querida Ágata, que por mais simpática que seja, me consegue assustar quando me deita as mãos em cima. É só uma massagem, de facto. Pena é que incide em cicatrizes e hematoma.

Estamos já em novembro. Este ano vai ficar na memória pelas 2 grandes cirurgias neste processo de reconstrução e de recomeço e no próximo ano espero conseguir finalizar o mesmo, já com intervenções menos invasivas e menos exigentes fisicamente.

Perguntei-me várias vezes se este era o caminho a percorrer, se valia a pena todo o sofrimento físico e psicológico. No fim do processo, darei uma resposta mais assertiva, mas neste momento tinha mesmo de o fazer. Por mim e por todos à minha volta, especialmente a Rita.

Em 2014, pouco antes da mastectomia, expliquei-lhe que o médico teria de tirar a mama, porque o "dói-dói" estava lá dentro. Ela tinha 4 anos, pouco entendia de doenças e de mamas, mas sabia que era uma parte de mim. A olho nu, a mama estava normal, por isso ainda mais estranho lhe parecia. Perguntou se eu ficava sem mama e eu disse que depois o médico fazia outra, quanto acabasse de tomar os "remédios maus".

No cancro de mama inflamatório, não é recomendado que se faça reconstrução imediata. A mama afetada tem de ser retirada, os tecidos bem escrutinados e limpos na caixa torácica e eliminar o máximo de pele possível...depois é bombardeada com muita radioterapia. É recomendado esperar no mínimo 2 anos até que se comece a pensar na reconstrução e nunca insisti nesse sentido com o meu oncologista. Demos quase 3 anos ao corpo e à pele para se regenerar, porque fiquei tão queimada que ainda hoje sei exatamente os limites da zona atingida pela radiação. Churrasquinho :)

Enfim, life goes on mesmo. Já estamos quase no fim do ano, o Natal está aí à porta e já posso voltar ao trabalho na segunda. Retenho dos dias bons as coisas boas e dos dias maus as coisas más. Não me consigo esquecer delas, até porque fazem parte deste caminho que não escolhi, mas que tenho de viver.


Bjinho,
Vera