terça-feira, 24 de novembro de 2015

Mudanças tangíveis

Há mudanças que todos nós podemos fazer em prol da nossa saúde, especialmente quando a sentimos escapar por entre os dedos. Quando fui diagnosticada, assumi um papel interveniente e ativo na minha recuperação. Levar com estatísticas e probabilidades pouco abonatórias pôs-me a matutar...como ajudar o organismo, o meu corpo a aguentar com tanta agressão (=tratamentos) e ainda ter força para se auto-regenerar?

A alimentação é uma das grandes armas de que todos dispomos. Li muito, pesquisei muito e questionei muito os meus hábitos alimentares atuais e passados (há quem defenda que os primeiros anos da nossa vida são marcantes para a nossa saúde futura). Mesmo antes de consultar a minha querida nutricionista, já havia começado a eliminar algumas coisas da minha dieta.  Os laticínios, as carnes vermelhas, o açúcar branco, os intensificadores de sabor ou adoçantes sintéticos, entre outras pérolas da alimentação moderna.

Fui aplicando estes e outros cortes cá em casa e os nossos palatos vão-se habituando a novos sabores, a novas receitas, a novos métodos e a uma melhor seleção dos produtos que ingerimos.  A carne vermelha deixou de ter lugar, comemos as brancas e, sempre que possível, de origem conhecida. Deixar o conhecido pode ser, por vezes, uma chatice. Parece que só sabemos cozinhar carne e peixe...

No sábado passado, dei mais um avanço no sentido da mudança. Passei o dia num curso de Alimentação e Nutrição Vegetariana. Nesta primeira sessão, foram abordados alguns conceitos de nutrição que já me eram familiares, mas aprendi imenso. Na próxima sessão, mais alguns conceitos teóricos e práticos para quem quer adoptar um estilo de vida mais saudável. No fundo, é uma abordagem holística da alimentação atual que ajuda a compreender muitas das doenças modernas.

De facto, somos o que comemos, como disse o Hipócrates, pai da medicina, há 2500 anos. E estaria ele errado ao afirmar que o "alimento seja o vosso primeiro medicamento?

Bjinho,
Vera



Jantar de ontem: cogumelos Shiitake no wok em bastante azeite, com mistura de legumes (tomate, brócolos, alho francês, cenoura, batata-doce, abóbora, alho e salsa), a acompanhar com feijão vermelho. 

domingo, 22 de novembro de 2015

O meu pai

O dia 22 de novembro significa, para mim e minha família, que passou mais um ano. Faz hoje 8 anos que o meu pai morreu de um acidente parvo, com a sua própria arma de caça que disparou contra ele. Não foi suicídio, foi mesmo um acidente daqueles que toda a gente ouve falar, mas que ninguém quer na sua vida.

Estava a trabalhar quando o meu irmão mais velho me ligou a dizer que o pai tinha tido um acidente. Perguntei se estava no hospital, o que se tinha passado. Mas já estava morto, demorara poucos segundos a morrer. A sensação de parar o tempo, de petrificarmos é estranha, mas senti-a já por dois momentos nesta vida. A súbita morte dele e quando me apercebi que estava mesmo com cancro, no vestiário de um hospital.

Por mais que tentemos andar distraídos, ou a vida nos distraia por ela mesma, é quase impossível deixar esta data em branco. Não fui à missa de aniversário, aliás fui a muito poucas missas dele. Também são raras as idas ao cemitério, mas quando vou, vou porque quero ir e sinto necessidade de ir. Sei que ele não se importaria, porque ele também não era muito de fazer as coisas só para os outros verem.

O meu pai não era uma pessoa fácil, e que isto não leve a mal-interpretações. Ele tinha muitos amigos e sei que das dezenas de pessoas que estiveram no seu funeral, muitas sentiram mesmo a sua morte.
Tinha o seu génio marcado, de pessoa muito pisada pela vida, com muitas tormentas, uma infância complicada. Viveu uma vida relativamente curta (55 anos) marcada pelo trabalho árduo no campo desde criança e isso endureceu-o bastante.

Para mim, ou para os meus irmãos, ele nunca foi um pai afetuoso. Não lhe estava no sangue. Não quer dizer que não gostasse dos filhos, mas daí a demonstrar e a fazer sentir vai um longo caminho que ele nunca soube percorrer.  A vida dura e sem grandes possibilidades não permitia muita coisa, mas admito que comida na mesa não faltava e quando quis ir para a universidade, foi grande o esforço para me ajudar nos primeiros tempos até conseguir a bolsa.  Aquela dureza talvez seja mal da geração, algo que naquela zona era tão comum que nem estranhávamos.

Ficou muita coisa por dizer, mas acho que mesmo se ele fosse vivo, não sei se lho conseguiria dizer. Os meus irmãos costumavam dizer que eu era a preferida, mas acho que não havia preferências. Talvez eu conseguisse certas coisas, tipo poder sair com o carro pouco tempo depois de ter a carta, por ser refilona e teimosa :) Era mais fácil ceder, do que aturar-me :)

Havia uma certa distância, respeito, medo....não sei bem o que era, mas que o afastava da família. No fundo, todos perdemos com essa distância. Perdemos momentos partilhados, afetos, carinho e o tempo, esse não volta atrás.



Hoje em dia é bem mais fácil a uma mãe e a um pai dizer que ama um filho. É saudável que os filhos saibam que são amados, fá-los crescer com mais sentido de pertença e mais enquadrados neste mundo.

Bjinho,
Vera

PS. Que modelito, eh?




segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O meu dia de aniversário

23h20...ainda é oficialmente o meu dia de aniversário. Apenas agora me consegui sentar no sofá, estou mortinha de cansaço e amanhã é dia de trabalho. Hoje tive de pedir um dia de férias, para poder manter a tradição de não ir trabalhar neste dia. É dose nascer oficialmente num dia e oficiosamente noutro. Mas, quem disse que a vida é perfeita?

O meu pai, lá nos anos 80 do século passado (isto dito assim até soa mal...), foi registar esta bela filha já uns tempos depois de nascida...estão a ver no que deu, certo?

Resumindo o meu aniversário, podíamos dizer que:

- Antecipei o dia de aniversário com uma noite na Régua com os primos :) Nós adoramos e queremos repetir...com menos frio por favor.
- Tive um dia muito bom, com o charmoso e a Rita num passeio pela Guarda e o "Forno da Mimi", em Viseu, para um belo almoço.
- Tive uma chegada a casa menos boa, quando descobri que a arca congeladora tinha avariado, quase cheia de legumes preparadinhos para o inverno, peixe, carne, etc...Foi um tal de despachar para salvar o que ainda se podia salvar e fazer muito molhinho de tomate (sim, tinha passado dias a cortar tomate maduro para congelar) e deitar fora o que não dava para usar mesmo...
- Tive uma visita da D. Alda, que, para variar, engendrou um mega-esquema para me preparar um presente fantástico, com a cumplicidade de muitos amigos, família, conhecidos e desconhecidos...não há palavras, devia mesmo ir para a polícia secreta, porque eu não dei por nada...MUITO OBRIGADA por isto, e por tudo. Gostei muito! Vou ler todas agora com calma e acho que sem chorar...
- Tive a vizinhança a irromper-me pela casa adentro com uma espécie de bolo sem açúcar e a cantar-me os parabéns...valha-me que cantam muito bem, porque o bolo estava assim, a modos que, intragável, mas a intenção foi maravilhosa. Obrigada vizinhança-família!
- Tive, aliás, tenho....todas as mensagens que recebi por sms, facebook, email....tudo por ler e por responder. Andei desligada do mundo hoje, faz bem desligar das tecnologias e andar assim, semi-livre pelo interior, onde tudo me pareceu mais calmo, menos stressante e muiiiito mais frio.

Sei que muita gente me quer bem e fico feliz por isso. Espero que algum dia, quando precisarem, eu possa retribuir um pouco deste carinho que tenho recebido.
Bem haja a todos.

Hoje fiz 35 anos. Para o ano, 36 e por aí em diante. Que me acompanhem todos, com saúde, amor e paz.



Beijinho e obrigada a todos.
Vera

PS. Não sou muito de demonstrar afetos, ou aliás de os verbalizar, mas gosto muito de vocês. Espero conseguir demonstrá-los em gestos e aprender a fazê-lo por palavras. Dizem que nunca é tarde para aprender!

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Refeições do dia-a-dia

Ainda acerca da alimentação, costumam perguntar-me o que eu como cá em casa, tendo em conta as minhas "esquisitices". Sendo assim, cá vai. 

Hoje a couve galega é rainha cá em casa. Caldo verde para começar, seguido de batatinha cozida com mais da dita couve e uma espécie de bacalhau com broa desconstruído, como dizem os modernos.

Beijinho

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Comida e bom senso

Há quem diga que é complicado comer à minha beira hoje em dia...especialmente aquelas meninas que comem um pastel de nata a acompanhar o café depois de almoço. Aparentemente, devo lançar olhares reprovadores e as natas caem mal na minha companhia :)

A questão da alimentação tem sido cada vez mais discutida em praça pública e tem gerado muita polémica. Para mim, enquanto pessoa que teve um cancro e faz tratamento para evitar a sua recidiva, é fundamental encarar a alimentação como um dos vetores para a minha vida a longo prazo. 

Ontem assisti ao debate na televisão acerca da questão da alimentação, nomeadamente da carne e enchidos e fiquei algo desiludida com a informação prestada. Tive a sensação de que estavam todos os interlocutores com medo de afrontar a indústria da carne e dos enchidos, uma coisa estranha. A meio da conversa, intervenções desconexas de pessoas que não pareciam entender nada do que diziam...enfim, não será assim que se fomenta uma educação alimentar. Sinceramente, não devia estar assim tão surpreendida. Já vi coisas bem piores, vindas de nutricionistas e aparentemente a sociedade aceita sem interrogar, porque a "dra." disse que era assim. 

Se pesquisarmos, e para isso é preciso saber fazê-lo, encontramos provas, testemunhos, orientações e referências saudáveis para comermos o melhor possível, num mundo em que quase nada é naturalmente produzido. É no equilíbrio que está o ganho.

Vivi toda a minha infância e adolescência numa aldeia nas encostas da Serra da Freita, com os meus pais a praticarem uma agricultura de subsistência, que nos garantia a maior parte da nossa alimentação, uma vez que ali não havia grandes alternativas (nem dinheiro). Sempre comemos muita carne, criada lá em casa, mas sim, não deixa de ser carne vermelha, enchidos, etc... e mesmo assim, não acredito que tenha sido isso, per se,  a provocar-me o cancro. 

Apesar disso, depois de muita pesquisa e conselho da minha nutricionista, cortei a carne vermelha, os laticínios, alguns conservantes e intensificadores de sabor e o açúcar, principalmente o branco. Não é fácil, principalmente num mundo de consumo em que quase tudo leva conservantes, é produzido industrialmente e cujo único fim é o lucro. Gasta-se muito mais dinheiro quando se tenta levar uma alimentação mais natural e mais saudável. A minha esperança é que, num futuro próximo, o preço deste tipo de alimentos vá descendo à medida que a procura aumenta.

Como eu costumo dizer, mais vale gastar dinheiro na alimentação do que na farmácia.

Beijinho
vera


PS. Se algum dia me virem a comer uma coisa doce ou qualquer coisa do género, não se pasmem nem me mandem internar. Não sou santa nem quero viver até aos 110 anos. Basta até aos 100 :)