terça-feira, 26 de agosto de 2014

Semi-letargia

Hoje foi dia de anti-corpo logo pela manhã. Hemograma ok, Herceptin para dentro.

Fico num estado de semi-letargia depois da dose. Uma moleza estranha e um cansaço físico, que me faz adormecer no carro até chegar a casa. Mas não, a moleza não pode continuar em casa, porque a Rita estava à espera da mãe para ver o "Frozen" pela milésima vez, até sairmos para mais uma sessão de fisioterapia já ao fim da tarde.

A fisioterapia termina amanhã, já com maior amplitude de movimentos do braço. Ainda não estou a 100%, mas preciso de parar agora.  Tenho mesmo de descansar para recuperar energias e a pele. Os efeitos da radio sentem-se agora com mais "esplendor" e a coisa está  "viva" aqui por estes lados.

Apesar de tudo, interessa é conseguirmos sempre rir de alguma coisa, conseguir sempre ver algo bom nos nossos dias. Hoje a vizinha Lia (6 anos) quis ver o meu "dói-dói". Diz-me ela depois, com uma naturalidade maravilhosa: "isso está mesmo feio!"

Pois está Lia, tens razão. Mas vai ficar melhor, muito melhor, e teremos muitos anos pela frente para os nossos picnics e convívio!

Bjinho



segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Cansaço

Num mês em que supostamente recuperamos energia para o ano todo, eu continuo com baterias em baixo, sem as conseguir recarregar. A idade é um posto!

Com uma agenda social algo preenchida no final da semana passada, foi no sábado que a bateria quase descarregou em casa dos amigos "beans", com a minha alegre vizinhança. Estava fisicamente exausta, mas a alegria daquela gente toda acaba por nos contagiar e lá resisti até às 23h...(as minhas noitadas agora são assim). Quando estamos rodeados de gente boa, sentimo-nos com mais força.

Tirando isso, a recuperar dos efeitos da radioterapia. Algumas feridas abertas, tipo queimadura, mas já estava a contar com elas. Incomodam mais do que propriamente a dor que causam (para já).

Amanhã é dia de voltar à carga com o anti-corpo (Herceptin) e de voltar a estar com o meu querido oncologista e enfermeira. Sabe bem ser tratada por profissionais deste género. Pena que nem todos os profissionais nesta área tão delicada sabem tratar e cuidar o doente no seu todo. Torna o processo muito mais fácil.

E entretanto, a luta literária continua...


Bjinho e aproveitem bem os últimos dias de agosto!

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Imagens...

As imagens do dia da última sessão de radioterapia...palavras para quê?

A simpatia do "staff" do Quadrantes, faltando na foto a Isabel e o Dr. Tomé :)
A Rita a deixar um presentinho da Vista Alegre para beberem um chá e se lembrarem de nós :)
Uma certa amiga (SISSE) que me apetrechou para os próximos rounds!
Presentinhos dos vizinhos Rafa e Lia :)
Uns veraneantes que, mesmo de férias, não se esquecem de nós:)

Bjinho a todos que me acompanham :)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Terra à vista

Se eu fosse um pescador a chegar de uma jornada de 1 mês e meio no mar, gritaria "terra à vista".
No meu caso, que sou mais serrana do que pescadora, a única coisa que vislumbro é o fim da radioterapia amanhã. Mais uma fase que se completa.

26 sessões. É dose, ou aliás, quase já posso dizer que foi dose. As viagens diárias ao Porto, quase sempre de comboio, deram cabo de mim. A pele agora anda mais mal-tratada, muito sensível mesmo, mas mesmo assim, portou-se bem. Agora é esperar pela pele nova, tipo rabo de bebé, não é, Vânia?

Espero, com todas as forças, que o tratamento tenha surtido o efeito desejado e tenha eliminado possíveis células do bicho que tenham ficado na parede torácica. Amanhã tenho consulta de alta com o meu médico radiologista e, apesar de ter sentido muito carinho e simpatia por parte de todos na Clínica Quadrantes, espero não ter de voltar a usufruir dos seus serviços.

E pensam vocês que eu agora ia ter um bocadinho de paz para recuperar? Ainda não mereço..."trabalhei" pouco este ano. Na próxima terça, dia 26, mais um tratamento de imunoterapia e consulta de oncologia. Até lá, tenho de recuperar valores normais de tensão arterial (de galinha nestes últimos dias), nível de plaquetas, hemoglobina....etc etc....está tudo em "low power".

Para quem está de férias, aproveitem bastante cada dia. Mimem quem vos é próximo e nada de energias negativas. A vida é curta, as férias também.

Bjinho




terça-feira, 12 de agosto de 2014

Livro & lágrima

Uma pessoa muito próxima foi passar 15 dias à Alemanha, para desenferrujar a língua. De lá enviou-me três postais, não fosse eu esquecer-me que ela continua firme e hirta na determinação de me acompanhar durante este meu processo de "redescoberta". Trouxe-me o melhor presente que me podem dar, um livro. Um livro que, por acaso, quase me fez chorar no comboio, em frente a umas quantas pessoas, mas ok, eu perdoo-te, tia Sisse.

É uma história simples de uma mulher que se viu confrontada com um primeiro cancro de mama aos 34 e depois com recidiva 12 anos mais tarde. Relata de uma maneira directa e simples todos os fantasmas que assombram quem sofre, ou vê sofrer alguém com esta doença.


Nada de novo, especialmente para mim que já li tantos sobre o assunto. Então o que fez brotar a lágrima?
Simplesmente a descrição que a autora faz quando se apercebe que tem cancro de mama, com um filho de dois anos apenas e em plena quadra natalícia. Pareceu-me tudo tão familiar...apenas muda a idade da criança de 2 para 3.

Pela Rita, e sempre por ela principalmente, a quadra natalícia de 2013 foi passada com a maior naturalidade possível. Houve jantar e almoço de Natal com a família, presentes e diversão. Por dentro, sabe Deus como eu estava, mas tinha de sorrir e de lhe proporcionar o melhor que tínhamos. 

Com 3 anos, o entendimento da vida é ainda relativo e ficar marcada por uma coisa destas assusta-me. Por este motivo, tenho tentado levar este cancro de uma maneira transparente e simplificada, ainda que choque algumas pessoas. Como eu dizia hoje à Stela, a fisioterapeuta que me está a ajudar a recuperar os movimentos do braço e músculo, se nós falarmos acerca do bicho, ele torna-se menos peludo e menos assustador.

Porque, tal como a autora do livro, o medo de deixar de estar aqui para ver os filhos crescerem e para os ajudar a compreenderem as amarguras e as alegrias da vida, é maior do que o medo da nossa morte em si, ainda que estritamente ligados. Estranho, não é?

Pois, foi assim que brotou a lágrima no comboio, prontamente seca com o frio polar que se faz sentir lá dentro.

Já fui menos lamechas :(
Bjinho


Ps. A radioterapia ainda vai durar até terça-feira, mas estamos quase no fim. A pele aguentou-se estoicamente, ainda que agora já muito avermelhada, tipo escaldão de gente parva que não usa protetor solar. 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Regresso às origens

Viadal. Muitos desconhecem o nome. É simplesmente o nome da aldeia que me viu nascer quase há 34 anos e onde vivi até sair para a universidade. Fica ali na encosta da Serra da Freita, concelho de Vale de Cambra, onde por muitos anos julguei que Judas tinha perdido as botas.

Não são, nem nunca foram aldeias fáceis, estas aldeias serranas. Muito isolamento, falta de transporte, resistência à mudança e muito choque geracional. Foram anos de uma vontade imensa de sair de lá e viver noutros sítios. Mas neste domingo regressei após meses de ausência e fui recebida com tanto carinho, que parece que nunca de lá saí.

Coincidência das coincidências, decorria nesse dia um convívio das gentes da aldeia, promovido pela associação ADCRA, no bonito parque da Nossa Senhora da Ouvida.  Apareci meia de surpresa, apenas a família direta sabia que eu ia, porque principalmente queria estar com o meu padrinho (Zézito para os amigos) e sua família antes do seu regresso a França.

Foi muito rever aquela “gente da minha terra”, como diria  a Mariza. Encontrei primas, segundas-primas, vizinhos, colegas de escola, enfim, uma amálgama de laços com um travo de nostalgia. Encontrei pessoas com as quais ainda só tinha laços “facebookianos” e recebi um abraço do Vítor, um tripeiro (sem ofensa) que se apaixonou pela aldeia e que muito tem feito para a dinamizar.
A selfie que nós tiramos está o máximo! Quase ficamos bonitos :)

O meu corte de cabelo foi aprovado pela maioria e pela foto que me tiraram com a minha avó paterna deu para perceber melhor a origem do meu nariz. Ninguém se faz :)

Espero participar do próximo convívio no parque e que haja saúde para muitos anos de convívio.




Ps1 - Se quiserem saber mais acerca da aldeia e iniciativas da associação, visitem a página http://www.adcraviadal.pt/ 

Ps2 - Continuo a fazer radioterapia diariamente, ainda faltam algumas sessões para terminar. Ando muito mais cansada e facilmente encosto às boxes :) 

domingo, 3 de agosto de 2014

Gengibre

Pois é, ao fim de quase 8 meses de luta, o sistema imunitário esqueceu-se de me defender e estou com aquela tosse seca e garganta inflamada. A radioterapia talvez não ajude, porque acaba por provocar também inflamação de tecidos, mas no fundo, acho que o que mais contribuiu para esta garganta dorida foi, sem dúvida, a CP. Não imaginam o friozinho que faz nos comboios. Saímos de uma câmara frigorífica para o calor de S.Bento e vice-versa.

Ao fim de 3 semanas, a garganta cedeu. Na sexta, tivémos de interromper a radioterapia por duas vezes, para aqui a madame poder tossir. É suposto estar o mais imóvel possível, por isso a tosse não ajuda. Demoramos um bocadinho mais, para que me voltassem a colocar no sítio exacto das duas vezes.
Vale a simpatia das terapeutas e a promessa do tal serviço de chá da Vista Alegre:)

Portanto, desde sexta que a missão é curar esta tosse. Chá de gengibre com mel tem sido a minha ajuda e resulta. Hoje já tenho menos tosse e espero passar bem a noite. Aproxima-se a 4ª semana de radio e desta vez acompanhada pela Rita, que já está "familiarizada" com o pessoal do Quadrantes.

O chá bebe-se muito bem, com aquele ligeiro "picante" próprio do gengibre. Se juntarem um bom mel, sabe mesmo bem. Comprem no supermercado a raíz e experimentem. É um anti-inflamatório muito forte e atua também como acelerador de metabolismo, para quem quiser perder uns quilinhos.

Eu também tenho aqui algum peso e volume a perder (tudo dos corticóides, claro), mas uma coisa de cada vez. Primeiro o cancro, depois a banha.



Informem-se aqui acerca do gengibre e aprendam a fazer o chá.

Bjinhos