domingo, 29 de janeiro de 2017

Reforma aos 66?

Há uns dias atrás, apareci na TV por uns segundos. Porquê, perguntam-se vocês...

O motivo 
Cancro e uma petição entregue na Assembleia da República.
O dever
Divulgar a necessidade de se olhar para o sobrevivente oncológico com outros olhos e leis, por via da petição a exigir mais direitos laborais.
A impulsionadora da petição
A Cristina Coelho, mulher de garra que sobreviveu a um adenocarcinoma. Mulher esta que há uns 3 anos atrás, quando eu me juntei a um grupo de doentes/ familiares de pessoas com cancro no Facebook, falou comigo via mensagem privada e me deu conselhos muito úteis sem me conhecer, dando-me certezas que eu estava a fazer escolhas acertadas e me fez ver que os Portugueses têm um coração bom e  solidário.
O momento
Alguns minutos a falar com o jornalista e lembro-me vagamente do que disse. O que passou na TV já revi, do resto da conversa retive o momento em que ele me perguntou se eu iria conseguir trabalhar aos 66 anos, idade da reforma atual. Eu sorri...sei lá eu sequer se estou viva nessa altura. No fim, já em off, diz ele que também teve um familiar direto com cancro, que sofreu imenso. Todos nós temos alguém...na família, nos amigos próximos, vizinhos, etc. Daí ser importante participar nestas iniciativas, é só assinar e partilhar.
Porquê eu a acompanhar a Cristina?
Sou apenas um dos 10.000 e muitos signatários da petição, mas ia estar no Porto para uma consulta e proporcionou-se um encontro com a Cristina e a reportagem.
Porquê participar?
Porque sei que é verdade, porque atualmente, com 36 anos, sinto os efeitos secundários dos tratamentos. Tenho osteopenia em algumas partes do corpo, articulações frágeis, costelas fragilizadas pela radioterapia, risco de linfedema a qualquer corte ou simples picada de melga no braço direito, dores no braço, cansaço, dificuldade de concentração, memória de passarinho, calores e suores, etc. etc...

Claro que estas "piquenas" coisas não me tiram o bom humor e a alegria de viver. Disfarço bem a maioria delas, até porque já anda tudo tão ocupado com as suas próprias mazelas, que impera a velha máxima do "cada um sofre as suas".

 Baci,
Vera


A petição está aqui:
 http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT81505

A reportagem está aqui:
 http://www.rtp.pt/noticias/pais/doentes-oncologicos-reivindicam-direitos-laborais_v977998


PS: Remoção de cateter já marcada para breve, vou-me ver livre da entrada extra e vou curtir uma boa soneca com o Propofol:)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

3 anos pós-início

Ontem foi um dia agitado, com visita à família, viagens, lambidelas do Bek e mais viagens.

Chegada a casa, preparar sopas para a semana, orientar a semana que é sempre muito preenchida. Na minha cabeça, ressoou desde cedo a ideia de que fazia 3 anos que fiz a primeira sessão de quimioterapia e, volta e meia, vinha isso ao pensamento. 3 anos, já?

São datas que estranhamente trazem de volta o medo e a ansiedade que eu levava comigo, a sensação do frio a entrar nas veias e o adormecimento lento após os primeiros minutos. Não se esquece, mas tentamos não nos lembrar disso, até porque é sempre preferível lembrar-mo-nos das coisas boas associadas à quimio...e tenho muitas coisas boas a recordar, que quase apagam da memória o sufoco físico da quimio, a cor amarelada, as olheiras, a falta de cabelo, o cansaço, as dores!

 O carinho, a atenção, as flores, os presentes, os mimos, a companhia, o incentivo, as palavras de amizade e de preocupação...a minha esfera protetora, no fundo. Sim, acredito que tenham ajudado bastante a ultrapassar esta fase, cujo aniversário ontem me fez recuar 3 anos e me fez agradecer, mais uma vez, por estar aqui.

Kit de fim de quimio, oferecido pela grande Sisse :)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

2017, com força!

2017, um novo ano com muitas mudanças previstas, mas sempre acompanhada pelos velhos fantasmas.

Primeiro as mudanças. Sexta-feira passada, consulta de oncologia e limpeza de cateter, que espero ter sido a última. Se correr tudo como planeado, faltam apenas algumas semanas para deixar de ter uma entrada extra no peito, ou deixar de ser biónica, como diz o charmoso.

O meu 'Implantofixzinho' ajudou a salvaguardar as minhas veias durante o tratamento de quimioterapia, mas tenho neste momento carta verde para o retirar. No cancro inflamatório, a probabilidade de recidiva nos dois anos subsequentes é alta, pelo que fomos mantendo o cateter, sempre com a devida manutenção todos os meses para o bichinho estar bem de saúde.

Neste momento, está na altura de o retirar, pelo que em breve irei ao bloco dormir um bocadinho, provavelmente com Propofol, a droga que pôs o Mickael Jackson a dormir (de vez). Depois dessa, virá uma outra ida ao bloco, ainda sem data definida, para o fecho de um ciclo e umas consequentes  semanas de casulo para recuperar, fisioterapias subsequentes, dores e mau génio...mas faz tudo parte deste jogo, que ja só joga quem quer.

Foi no âmbito desta mudança que retirei já na sexta sangue para avaliação do marcador tumoral e estudo de coagulação e  mais umas tretas para poder ir ao bloco. Descansadinha, ou já a ganhar confiança que tudo irá correr bem, estranhei a ausência do relatório das análises no portal do cliente, mas aguardei serenamente. Ontem, depois do almoço, vejo uma chamada do Hospital da Arrábida...penso que pode ser a minha querida cirurgiã a antecipar a ida ao bloco e ligo de volta. Depois de algum tempo a procurarem por quem me tinha contactado, dizem-me que é a minha enfermeira que quer falar comigo, porque há qualquer coisa de errado com as análises ao sangue.

Bem, aquele hiato de tempo entre me dizerem isto e chegar à fala com a minha querida enfermeira Maria José foi giro, no mínimo. Mas, quando ela começa a falar, percebi pelo tom de voz que não seria grave. Diz-me ela que pensou em mim na passagem de ano, que tinha de falar comigo antes que eu panicasse pela falta de relatório no portal.

Aparentemente, não foi possível ao laboratório fazer o tal estudo da coagulação, porque tinha muita heparina circulante...sim, eu sou um laboratório de drogas com pernas. A heparina é injetada para manutenção do cateter, e apesar de ter sido picada no cateter e no braço (veia periférica) para retirar o sangue, a heparina pode levar a resultados manhosos, pelo que antes de ir ao bloco terei de fazer nova análise.  Na boa...já me espetaram tantas vezes para coisas menos boas, para isto espetem à vontade.

Espero que tenham todos um 2017 com saúde:)
Bjinho
Vera

O meu cateter :)