M.,
Não tive o prazer de
privar contigo. Vi-te algumas vezes pelos corredores da reitoria, sempre
simpático e com um ar feliz. Mas nunca conversámos a sério, não tivemos tempo.
Apenas falamos uma vez,
uma única vez. Lembro-me como se fosse hoje. Estavas com os teus pais no café
do Retail Park e eu entrei com a minha filha. Conhecíamo-nos apenas de vista, mas
já sabíamos que partilhávamos a besta do cancro. Apresentaste-me os teus pais e
conheceste a minha filha.
Demos um abraço, como se
fossemos velhos amigos. Éramos, sim, novos companheiros de luta. Falamos dos
nossos planos de tratamento. Ainda nos rimos bastante, porque quando eu disse
que ia rapar o cabelo em breve, tu disseste, em jeito de brincadeira, que desse
trabalho já estavas safo, porque já eras quase careca.
Sei que a tua luta foi
dura e que nunca te faltou o amor e apoio da tua mulher e família.
Sinto que uma parte de nós desmorona sempre que alguém morre de cancro no nosso circuito. Podíamos ser nós, aliás podemos ser nós a qualquer momento. Morrer todos sabemos que vamos um dia. A diferença é que, para nós, essa noção é mais crua e mais fria. Sente-se na pele.
Sinto que uma parte de nós desmorona sempre que alguém morre de cancro no nosso circuito. Podíamos ser nós, aliás podemos ser nós a qualquer momento. Morrer todos sabemos que vamos um dia. A diferença é que, para nós, essa noção é mais crua e mais fria. Sente-se na pele.
Até um dia M. e olha pela
tua família.
Um abraço,
Vera
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