7 dias depois, cá estou eu, uma espécie de “Frankenstina”
reconstruída, cheia de pontos, cicatrizes, gaze e adesivo por todo o lado. Só
não tenho parafusos…do resto tenho tudo!
Olhando hoje em retrospetiva, estes dias demoraram a passar,
caramba!
Em resumo de diário, rápido e com poucos pormenores
sórdidos, porque não quero que ninguém desmaie (esta é para a Risy).
Terça-feira, 7 de março
No bloco operatório correu tudo bem. Simpatia e um
acolhimento muito carinhoso dissiparam “alguma” ansiedade e receio que por ali
pairavam. Musiquinha smooth no bloco, estilo Nip Tuck, pessoal simpático e a
transmitir confiança que estava bem entregue. Fui para o bloco às 9 e qualquer
coisa, regressei ao quarto 421 pouco depois das 14h, depois de algum tempo no
recobro. A anestesia deve ter sido
forte…enjoos e mal-estar geral, sonolência e alguma falta de orientação, mas
enfim, faz parte do jogo que eu quis jogar. O charmoso veio para Aveiro
relativamente cedo, para a Rita não sentir tanto a ausência e ter companhia no
dentista (não vale a pena duplo trauma num só dia).
Por volta do meio da tarde, ao ser observada pelo
enfermeiro, apercebemo-nos do primeiro sangramento…um ponto rebentado na zona
da axila, muito perto do dreno. Sangue por todo o lado, e eu a prometer à
enfermeira uma caixa de ovos moles se tirasse o sangue da cinta e soutien
cirúrgicos…100€ cheios de sangue logo na primeira noite….grrrrr…
No meio de alguma gargalhada com a minha aparente
descontração, lá me fizeram novo penso, com mais pressão na zona a ver se o
ponto se rendia…e sim, de facto este parou de sangrar. Pelas 6 da manhã, sentindo
calor e algo estranho no pescoço, reparei no sangue noutra zona, já a escorrer
no corpo. Imagem sexy, algo pérfida, mas lá nos rimos…desde que se salve a
cinta e o soutien, estamos bem:)
De manhã, o cirurgião plástico esteve a ver o penso, abriu
tudo para ver os pontos rebentados e voltamos a fechar. Parecia já estar
controlado, pelo que era preciso levantar para evitar coágulos, ativar
circulação, ver como me sentia…
Ponto alto do dia: Conversa com a médica anestesista no
bloco acerca da medicação que fiz e faço e tretas afins do meu historial
clínico. Consegui confundir a senhora, que me perguntou se eu era médica,
enfermeira ou se trabalhava no ramo da saúde…qualquer pessoa sabe que o
Herceptin reduz a FE, certo??
Ponto baixo do dia: Tirando os vómitos ao fim da tarde/
noite, foi mesmo fazer chichi na aparadeira (vulgo arrastadeira), especialmente
depois de termos a zona abdominal toda retalhada e termos de a elevar para nos
colocarem um objeto metálico e frio debaixo do corpo…credinho!!
Quarta-feira, 8 de março
Pois, este foi o meu pior dia, de todas as intervenções que
já fiz. Apesar de já estar à espera de alguma falta de energia e tensões
baixas, uma vez que tinha perdido muito sangue na cirurgia, não imaginava ser
uma espécie de boneco de gelatina sempre que me tentavam pôr de pé, ou mesmo
sentada. Foi um dia de muitos pontos baixos, muitas dores, desconforto e
vontade de andar para trás no tempo. Desmaiei algumas vezes, maldisse os
retalhos abdominais, pensei na minha querida prótese fechada no armário, que nunca
me tinha dado este mal-estar…estás perdoada, volta!
Sou teimosa, por norma não me queixo de dores, mesmo que as
tenha, mas basicamente pedi ao médico para ficar no hospital. E ele realmente
assim o fez…com tensão arterial de galinha, sem sequer conseguir fazer chichi
sozinha…não pode ir para casa nem suportar a viagem até Aveiro.
A comida do hospital era boa, mas quando chegava o
tabuleiro, sempre à hora certa, até se me revoltava o fígado…coitado, com a
abdominoplastia está para ali tudo tão encolhido e comprimido que comer era uma
espécie de tortura camuflada. Claro que sem comer, o próprio corpo demora mais
a recuperar…
Ponto alto do dia: A visita da minha filhota. Pontos rebentados quietinhos e
sossegadinhos. Eu a dizer ao enfermeiro que deviam chamar a psiquiatria para quem se submete a
abdominoplastias só pela “beleza” do six-pack…tem de ser um problema de foro
psiquiátrico.
Ponto baixo do dia: A sensação de desmaio a qualquer coisa
que se tente fazer. Um ataque de tosse a meio da noite e a sensação que o
umbigo ia sair disparado a qualquer segundo…lágrimas sempre que tossia.
Quinta-feira, 9 de março
O médico neste dia passou apenas à tarde. Já me tinha
conseguido levantar e ir ao wc, ainda que acompanhada. Drenos ok, mas tensões
ainda baixas, cor amarela e ainda muita falta de energia, pelo que ele
recomenda mais um dia internada para poder usufruir daquela bela cama
articulada e da sport TV no quarto.
Ponto alto do dia: Ir ao wc sem ajuda e ter uma espécie de
banho à gato.
Ponto baixo do dia: a sensação que algum animal tinha
morrido debaixo dos lençóis sempre que me mexia…
Sexta-feira, 10 de março
A minha filha liga-me de manhã, antes de ir para a escola e
eu quase salto da cama, arranco drenos e espanco o pai da criança…ela diz-me,
vitoriosamente que vai de manga curta para a escola…ok, decido que está na
altura de pôr de lado as abichanices e ir embora para casa. Faz muita falta uma
inspectora nesta casa.
O médico passa e vê que estou com melhor aspecto e passa a
alta para o fim da tarde, já com retirada de drenos… nesta fase, o meu irmão
Nelson, sempre corajoso a ver os pensos, retira-se suavemente do
quarto….ahahaha. É por isto que a humanidade depende das mulheres para
continuar o seu ciclo de vida.
Saí do hospital apenas perto das 21h, com ânsia de chegar a
casa, mas medo da viagem. Acho que senti todas as irregularidades da estrada,
paralelos, altos e baixos e, muito carinhosamente, as tampas de esgoto da EN
109 até chegar a casa.
E desde então, tem sido sempre a melhorar. Tensões mais
regularizadas, mais energia, ainda amarela, mas a recuperar no bom caminho.
Amanhã nova viagem ao Porto para vermos como está.
Cómico deste fim de semana: as minhas vizinhas Lígia e
Andreia a darem-me uma espécie de banho, no qual me vestiram sacos de lixo para evitar molhar os pensos; a
Lígia a lavar-me o cabelo na pia da cozinha, a Margarida que me vem deixar um
mimo e o pendura na porta do vizinho…enfim…já me ri bastante, se bem que cada
vez que me rio, tenho a sensação que me vou desmembrar em pedaços.
Ah beleza, a quanto obrigas!
Bjinho e obrigado pelas mensagens de apoio.
Presente da Rita :) |
Votos de rápida recuperação.
ResponderEliminarAna
Obrigada Ana ☺
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