
Um cancro de mama diagnosticado aos 33 anos. Não procuro ser mais do que um exemplo de luta, mais uma "Maria" a encarar olhos nos olhos esta doença. Não sou a primeira, gostaria muito de ser a última mulher com esta doença. Infelizmente, não serei. Mas serei mais uma a dar armas às "Marias" que se virem confrontadas com este desencontro da vida.
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Dia dos amigos

quarta-feira, 12 de março de 2025
Soneca, costura e steri-strips
Há 8 dias atrás, estava eu na azáfama de pré-cirurgia. Documentos e exames médicos, organizar o dia em que ia estar fora, transportes e dormida da Rita em casa da amiga, porque a entrada no Hospital da Arrábida era cedo. Por mais experiência que se tenha, há ali sempre um nervoso miudinho que se instala no dia anterior e que se tenta camuflar com as verborreias do costume..."é só mais um corte"!
Pois então, mais uma ida ao bloco porquê?
Segundo o Nuno, eu gosto e tinha saudades do bloco. Sadomasoquismo, segundo ele.
Só que não...não é gosto pelo bloco, mas também não se pode dizer que me cause estranheza nem qualquer sentimento de aversão. É o que é, é o que tem de ser.
Uma espécie de quisto que se formou na última cirurgia de reconstrução e que se manteve aqui, mais ou menos, sossegadito até novembro passado. Mas quando infeta e cresce e cria calor no peito, a sensação é algo estranha e de desassossegar até as almas mais sossegadas. Especialmente as almas que tiveram cancro inflamatório da mama e cujos sintomas envolvem calor, inflamação e alguma dor.
Uma ida ao oncologista sossegou os ânimos na altura, uma ecografia mostrou tecidos nada suspeitos...antibiótico, anti-inflamatórios e bota para casa. Só que voltou a manifestar-se pouco depois novamente e ultimamente lembrava-me da sua existência de forma pouco simpática.
Gosto pouco que me incomodem e não o convidei a instalar-se. Portanto, mais um corte, mais uma cicatriz em cima da outra e mais uns dias a dormir sem posição e a ganhar calo num certo sítio. Lembrava-me um destes dias que dormi mais de 3 meses de barriga para cima, semi-sentada, quando fiz a primeira grande cirurgia. Portanto, há que aguentar agora uns dias.
O dito cujo foi para análise, como todos os tecidos que são retirados e em breve vou saber que o "nódulo de citoesteatonecrose" não passava disso mesmo...uma cena com nome feio no meu peito.
E, com isto, voltei a descobrir que com cicatrizes frescas se devem evitar a tosse, os movimentos bruscos ou a vontade de ser independente e de fazer tudo sozinha. Pior do que tudo, é mesmo tentar controlar os meus "espirros silenciosos" e toda a turbulência que causam nos meus steri-strips!
O Olaf entende-me bem!
Para quem está na luta, coragem e boa disposição.
O cancro não gosta de hormonas felizes.
Beijinho
vera
Ps. Para o meu sobrinho M., 2 entradas no blog e ainda só estamos em março! Este ano promete!!
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
Dia da Luta, os 44 e o fim do rosinha!
Já passou mais de 1 ano desde a última entrada no blog. Ainda um destes dias dizia à Rita que o facto de escrever durante o cancro tinha ajudado a manter a sanidade mental durante o annus horribilis. Na verdade, tem ajudado ao longo dos anos e, de vez em quando, volto cá para reler certas entradas e pensar... "f******, se aguentaste isto, não há-de ser este ou aquilo que te deita abaixo!"
Hoje, no Dia Mundial da Luta contra o Cancro fui à consulta semestral de oncologia, ver o meu querido Dr. Leal. Há 11 anos a ser recebida pelo carinho constante e cuidado deste médico que se tornou, para muita gente conhecida, um amigo. Encontrei hoje 2 pessoas conhecidas lá...é um lugar comum, cada vez mais um lugar comum e estranhamente, continua a ser casa.
Marcamos hoje o fim de uma relação de alguns anos...eu e o tamoxifeno estávamos juntos desde 2019 e cortamos hoje laços. Fiz hormonoterapia desde 2014 e tenho sentido no corpo os seus efeitos.
Vendo frescura, é claro, mas daquela frescura que faz estalar os ossos e articulações...que causou osteopenia e mais uma série de efeitos secundários "fófinhos". Segundo os especialistas cá de casa, o mais sentido foram as alterações de humor...calúnias, na prática.
Deixar a medicação é uma sensação mista...uma espécie de agridoce achinesado.
Sabemos que o comprimido rosa contribuiu para reduzir taxas de recidiva, aumentou a sobrevida de mulheres sobreviventes de cancro de mama e contribuiu para que a esperança ganhasse lugar em muitas casas. É uma esperança rosa, pequenina.
Por um lado, quero parar de tomar medicação, mas por outro lado, há ali uma sensação de proteção que parece que se desvanece.Uns dias de habituação e a vida segue o seu rumo. Dizem que as hormonas positivas também protegem.
Pois bem, com 44 anos feitos, eis que posso colocar uma data de fim no tratamento previsto em janeiro de 2014, há muitos anos atrás e que me pareceram um futuro muito distante e, às vezes, impossível.
É possível percorrer a jornada. Uns dias melhores, outros piores, porque nem tudo é rosinha, como o tamoxifeno. Importa continuar.
A quem começa, eis o meu percurso. Registem tudo. Somos o nosso melhor médico e temos de saber tudo o que diz respeito à nossa saúde.
1- Quimioterapia neoadjuvante - início a 8-01-2014, com 4 ciclos de AC + 12 de Herceptin e Paclitaxel
2- Cirurgia - Mastectomia radical modificada a 17-06-2014
3- Radioterapia - Início a 14-07-2014, 26 sessões, sendo 10 com bólus
4- Herceptin - de 3 em 3 semanas, de 05-04-2014 a 31-03-2015
5 - Tamoxifeno - interrompido numa primeira relação, de 01-07-2014 a 7-10-2014
6- Zoladex - 1 mensal, durante 5 anos, de 8-08-2014 a 24-08-2019
7. Aromasin - diário, de 8-10-2014 a 30-09-2019
8. Tamoxifeno - retoma da relação a 01-10-2019 e fim a 04-02-2025
Abraço,
Vera