terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Hormonas felizes

Estou neste momento a ouvir Spiegel im Spiegel, de Arvo Pärt. São peças para violino, piano e violoncelo e têm um efeito tranquilizador. Na altura em que estava a ultimar a tese, ouvi este cd repetidas vezes, ora enquanto escrevia, ora somente a desfrutar da música. Foi o Sandro que me deu este CD. Talvez advenha daí a veia pacificadora destas músicas.

O Sandro, para muitos o Prof. Alessandro Gandini, é um amigo muito especial. Já não nos vemos há mais de 1 ano, mas falei com na semana passada e não é que ele quase me punha a chorar ao telefone. Porca miséria, diria ele no seu português marcado pela origem italiana!!

Há pessoas que nos marcam para sempre, pelas pequenas coisas. Por um Cd no momento certo, um livro ou o simples desfrutar da companhia dele, que foi das melhores coisas que me aconteceram durante o período em que trabalhei no Dep. de Química. Cá em casa também se fala frequentemente neste casal maravilhoso, Sandro e Joan Gandini. O Nuno, pelas razões óbvias. O Bolo Inglês que a Joan faz é muito bom mesmo. Foram das primeiras pessoas a visitar-me no hospital quando a Rita nasceu. Enfim....hoje estou lamechas!

E por falar em hospital, hoje é dia de "corte". A próxima sessão de quimio aproxima-se e vamos jogar pelo seguro, inserindo o cateter para poupar as minhas veias. Ontem tive consulta com a cirurgiã que me vai operar depois da quimio. Recebi ordens muito claras. Diz-me a Dra. Teresa que devo fazer coisas que gosto, ouvir boa música, ler, escrever e fazer yoga ou pilates enquanto faço a quimio. Caminhar todos os dias uns 30 mins. Tratar do espírito para depois tratar do corpo.

A minha conclusão é que os cancros não gostam de pessoas bem dispostas. Não gostam de receber hormonas felizes e às gargalhadas :)

Mas o meu vai recebendo a sua dose de parvoíce, de gargalhadas e de amor puro. Um casal amigo que me visita e faz o meu dia parecer normal, mesmo sem termos um Bimby. E claro, a minha filha que insiste em fazer-me rir todos os dias...insiste em dar-me aquele amor puro, sincero e absolutamente lindo.

Muitos conhecem a paranóia dela por hotéis. Aos 3 meses de vida já foi passar uns dias à Serra da Estrela. Ontem, ao despedir-me dela de manhã (o pai agora leva-a à escola todos os dias), ela voltou-se e perguntou se íamos para o hotel no dia seguinte. Mais uma vez, repeti com algum cuidado que não podia ir para o hotel, porque ainda tinha o "dói-dói". Imaginam a cara com que fiquei quando ela respondeu: "Não faz mal mamã. Tu ficas. Eu vou com o papá!"

Pois, riam-se! Há que, de uma maneira geral, conseguir ver o lado positivo em tudo o que nos rodeia. A Rita deixou de depender da mãe para tudo. Vai para a escola com o pai, o tio Nelson vai buscá-la ao fim do dia e dá-lhe o jantar, a tia Sisse (vulgo Sandra) fica com ela a dormir no sofá.

Noutros tempos, a mãe faria tudo e ainda com ela ao colo, a querer empurrar este mundo e o outro! Chegou a altura de reconhecer que só há heroínas nos filmes. Cá fora, precisamos uns dos outros.

3 comentários:

  1. Só tu mesmo....ÚNICA!!!
    Adoro a minha portuguesa
    Beijinhos grandes e com muitas saudades!
    Beli

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  2. Tu és uma Heroína que atraí Heróis. Aproveita :)
    Beijinhos

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  3. Nao tarda vais poder trazer a Rita aqui ao hotel da tia Andreia nas terras belgas!Es maior do que tudo isso Verinha Magica...desculpa nao poder estar ai quando mais precisas de amigos!Mas estas no meu coracao!Beijinhos da Andreia,Nuno e Felix

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