domingo, 22 de novembro de 2015

O meu pai

O dia 22 de novembro significa, para mim e minha família, que passou mais um ano. Faz hoje 8 anos que o meu pai morreu de um acidente parvo, com a sua própria arma de caça que disparou contra ele. Não foi suicídio, foi mesmo um acidente daqueles que toda a gente ouve falar, mas que ninguém quer na sua vida.

Estava a trabalhar quando o meu irmão mais velho me ligou a dizer que o pai tinha tido um acidente. Perguntei se estava no hospital, o que se tinha passado. Mas já estava morto, demorara poucos segundos a morrer. A sensação de parar o tempo, de petrificarmos é estranha, mas senti-a já por dois momentos nesta vida. A súbita morte dele e quando me apercebi que estava mesmo com cancro, no vestiário de um hospital.

Por mais que tentemos andar distraídos, ou a vida nos distraia por ela mesma, é quase impossível deixar esta data em branco. Não fui à missa de aniversário, aliás fui a muito poucas missas dele. Também são raras as idas ao cemitério, mas quando vou, vou porque quero ir e sinto necessidade de ir. Sei que ele não se importaria, porque ele também não era muito de fazer as coisas só para os outros verem.

O meu pai não era uma pessoa fácil, e que isto não leve a mal-interpretações. Ele tinha muitos amigos e sei que das dezenas de pessoas que estiveram no seu funeral, muitas sentiram mesmo a sua morte.
Tinha o seu génio marcado, de pessoa muito pisada pela vida, com muitas tormentas, uma infância complicada. Viveu uma vida relativamente curta (55 anos) marcada pelo trabalho árduo no campo desde criança e isso endureceu-o bastante.

Para mim, ou para os meus irmãos, ele nunca foi um pai afetuoso. Não lhe estava no sangue. Não quer dizer que não gostasse dos filhos, mas daí a demonstrar e a fazer sentir vai um longo caminho que ele nunca soube percorrer.  A vida dura e sem grandes possibilidades não permitia muita coisa, mas admito que comida na mesa não faltava e quando quis ir para a universidade, foi grande o esforço para me ajudar nos primeiros tempos até conseguir a bolsa.  Aquela dureza talvez seja mal da geração, algo que naquela zona era tão comum que nem estranhávamos.

Ficou muita coisa por dizer, mas acho que mesmo se ele fosse vivo, não sei se lho conseguiria dizer. Os meus irmãos costumavam dizer que eu era a preferida, mas acho que não havia preferências. Talvez eu conseguisse certas coisas, tipo poder sair com o carro pouco tempo depois de ter a carta, por ser refilona e teimosa :) Era mais fácil ceder, do que aturar-me :)

Havia uma certa distância, respeito, medo....não sei bem o que era, mas que o afastava da família. No fundo, todos perdemos com essa distância. Perdemos momentos partilhados, afetos, carinho e o tempo, esse não volta atrás.



Hoje em dia é bem mais fácil a uma mãe e a um pai dizer que ama um filho. É saudável que os filhos saibam que são amados, fá-los crescer com mais sentido de pertença e mais enquadrados neste mundo.

Bjinho,
Vera

PS. Que modelito, eh?




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