segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Memórias & rosas


No domingo deparei-me com imensas memórias soltas de pessoas que fizeram parte do meu passado. Fez, na semana passada, 9 anos que o meu pai faleceu. A missa de aniversário da sua morte era este domingo, pelas 10h45 na aldeia dos meus pais. Claro está que não cheguei a horas decentes, mas não foi só nesta. Acho que só fui à do 1º ano, as outras tenho escapado, quiçá evitado.

Não gosto deste tipo de aniversários, não gosto do que me lembra, não gosto das falsidades que costumam advir nestes dias. Por isso, há que preservar a devida distância para manter a minha sanidade mental. Não mais frequentes são as idas ao cemitério…mas sim, passei por lá este domingo para deixar umas rosas na campa onde estão os meus avós maternos e pai. Deixámos as rosas, falei com a Rita sobre eles e ela tentou ler os nomes nas campas. Fez perguntas simples, mas pertinentes….”se o teu avô se chamava Brandão, porque é que a tua avó é Almeida…e o teu pai não tem Almeida no nome, porque é que tu tens e eu não tenho? Com quantos anos morreram? A tua avó era mais velha que o teu avô?” e por aí em diante…

No seguimento, na tentativa de deixar uma rosa numa outra campa, corremos o cemitério à procura dessa pessoa. Não a encontrei, mas estranhamente apercebi-me que muitas pessoas que fizeram parte da minha vida já ali jazem…acho que mais de metade da minha aldeia está ali. E entre campas, flores e uma curiosidade inata da Rita, fui-lhe dizendo o que fazia um e outro, histórias e estórias engraçadas de cada um. As histórias do Tio Zé (marido da Tia Silvina) e do Tio Fernandes, que na sua linguagem própria, contavam as fábulas e histórias de La Fontaine e Perrault, provavelmente sem nunca ter ouvido falar dos seus autores. Eram ótimos contadores de histórias e tinham ótimas memórias dos tempos idos. Vi os vizinhos dos meus pais, vizinhos dos meus avós, tios e tias sem laços de sangue, que numa aldeia são partilhados pelas crianças.

Enquanto falava com a Rita, e o Nuno acelerava para a porta do cemitério, pensava para comigo o que ia ser da aldeia daqui a uns anitos…os mais velhos estão a morrer e os novos vão fugindo. Contra mim falo, saí em 1998 para estudar em Aveiro e por aqui fiquei e dificilmente me voltaria a adaptar a viver lá longe de tudo e de todos os que fui integrando na minha “família” em Aveiro.

Depois do cancro, aproximei-me mais da aldeia e das coisas da aldeia. Estamos a plantar um pomar lá e lentamente a tentar cuidar melhor do que temos por lá. No domingo plantámos mais árvores de fruto. Falta ainda preparar o terreno para as chuvas, mas o tempo não estica. Vamos fazendo, vamos cuidando, porque agora tem de ser tudo feito com ponderação, não vá o braço se armar em esquisito. Aceitam-se voluntários, no entanto. No Verão, já houve por lá uma alentejana a regar árvores a balde, quiçá na próxima jorna haja mais algum voluntário para as limpezas do terreno?

Uma coisa é certa. Trabalhar ali cansa o corpo, mas com a Serra da Freita no plano de fundo, não pensamos naquelas coisas que nos azedam diariamente. Mens sana in corpore sano.

Foto: ADCRA Viadal

1 comentário:

  1. Oi Vera
    Sua Aldeia? Que linda!
    Quantos habitantes? Quanta qualidade de vida!
    Bjs desde o Brasil. Bia

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